terça-feira, 27 de março de 2012

Vencedores APTR - por Macksen Luiz

Macksen Luiz: Cena Curta: Vencedores do Prêmio APTR 2011 A Associação dos Produtores Teatrais do Rio de Janeiro distribuiu por 12   categorias os prêmios da tempo...

sexta-feira, 23 de março de 2012

À Primeira Vista

“Quem pode dizer que amou sem ter amado à primeira vista?” (Christopher Marlowe). Devo confessar que a maioria dos meus amigos e dos meus romances passados foram amores à primeira vista. Soube de imediato que a outra pessoa faria parte da minha vida de alguma forma. Nunca errei. Estão todos aqui até hoje. Intuição? Sexto sentido? Não sei dizer. Talvez a pureza do “à primeira vista”, sem as amarras sociais, sem os preconceitos, tenham sido levados em conta no momento do primeiro olhar. Um cheiro? Um gesto? Continuo sem saber.

Estreou no Teatro Poeira o espetáculo “À Primeira Vista”, texto de Daniel Maclvor que conta a história de duas mulheres que se conhecem casualmente numa loja. Deste encontro, as duas passam a se esbarrar, casualmente ou propositadamente, pelos mais variados motivos, em lugares inusitados. Uma narrativa sem grandes revelações nem grandes embates, porém o interessante é se tratarem de pessoas comuns, simples, que pode ser qualquer um de nós.

A direção do Enrique Dias dá uma vida diferente ao texto. Coloca as atrizes em posições em que dialogam sem estarem frente a frente - nos momentos do passado - e, no momento do presente, contam a história para a plateia, destruindo a quarta parede e fazendo de todos um grande grupo de amigos.

A cenografia é composta de um telão com rabiscos que se desce do teto ao chão, adereçado por poucos objetos de cena. O figurino é simples e eficiente. Nada além do necessário. A luz muda radicalmente as cenas do passado para o presente, auxiliando certeiramente a direção e o movimento das atrizes em cena e a compreensão do texto.

Mas o grande encontro é de Drica Moraes com Mariana Lima no palco. Mariana tem uma excelente carreira de atriz e neste espetáculo não faz diferente. Desde Pterodátilos que o grande publico passou a conhecer sua brilhante atuação. É competente na sua criação e, mais ainda, generosa com a amiga Drica Moraes em cena.

Drica volta aos palcos recuperada. Saúde plena. A sensação é de que agora, estando viva, Drica quer usufruir de cada vírgula do texto, cada movimento no palco, cada raio de luz. Está plena, sem amarras, sem conceitos, sem vergonha, livre, completa, dedicada. Acompanhamos sua recente história pelos jornais. Rezamos, torcemos, e ai está o resultado de todo o carinho que doamos, anonimamente ou não, para que sua recuperação fosse total. E é. Drica brinca no palco. Está linda em cena. Pura, uma criança experimentando tudo que, talvez, antes não tivesse oportunidade de fazer.

O espetáculo é interessante, atual, bom teatro, texto inteligente, direção moderna e ágil. Mas o grande barato da peça é ver a amizade, o carinho e a dedicação de uma equipe de amigos e excelentes atrizes em cena. Ver Drica Moraes no palco novamente é emocionante. Ela está melhor que antes. Quando se perde um familiar de câncer, e vemos outro acometido da mesma enfermidade recuperado e vivo, é impossível não chorar. Aplausos de pé.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Júlia, O Céu Está Vazio e O Caso Valkiria R.

O final da semana passada foi totalmente dedicado ao teatro. Assisti a quatro excelentes espetáculos. Hoje já é quinta, então já é dia de correr para o teatro e aproveitar o que de melhor os produtores, atores, diretores e autores estão nos oferecendo.



A primeira recomendação é para hoje: O Caso Valkíria R, em cartaz no Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, conta a história de uma mulher que tem problemas com dores físicas. Ela procura um analista e, através do tratamento, descobre que a causa está lá na infância. Um texto não tão profundo, mas que nos dá a real intensão do autor em fazer valer a pena uma ida a um profissional da área. A direção do grande Victor Garcia Peralta é limpa e eficiente, deixando claras as passagens de tempo e as angustias dos personagens. No palco, a linda Helena Ranaldi defende com competência a mulher em busca de soluções internas e doloridas. No elenco, os também simpáticos e competentes Marcos Breda e Thais Garayp.




A segunda recomendação é o espetáculo Júlia, em cartaz no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá. A peça adaptada e dirigida pela premiada Christiane Jatahy, tem por base o texto "Senhorita Júlia" de August Strindberg. O genial desta montagem é a fusão de cinema e teatro, ambos ao vivo. Credito o sucesso da montagem à direção brilhante e inteligente de Chris Jatahy e à câmera ao vivo de David Pacheco. A história de mocinha que se atira nos braços do empregado, e as consequência deste ato, permite aos atores Julia Bernart, Rodrigo dos Santos e Tatiana Tiburcio, mostrarem um trabalho de grande competência. Mas a grande sacada mesmo é o cenário de Marcelo Lipiani, com paineis e projetores que se movem ao mesmo tempo. A luz de Renato Machado acompanha muito bem a traquitana e permite tanto uma luz cênica quanto cinematográfica. Espetáculo imperdível.




E antes que termine o fim de semana, está em cartaz no Teatro Café Pequeno, de Julia Spadaccini, o texto O Céu Está Vazio. Excelente retrato das relações humanas nos dias atuais, onde filhos, casais, amantes, comportamentos e ausências são discutidos com precisão e verdade. A direção de Jorge Caetano é ágil e conduz a trama sem a pressa em se chegar ao desfecho, deixando a platéia se envolvendo com os personagens, torcendo por eles. O bacana da peça são as imagens projetadas no cenário de Fernando Mello da Costa (um mestre da cenografia), criadas pelos sempre competentes Rico e Renato Vilarouca, misturando desenhos japoneses com os titulos de cada cena em especial. No elenco, Paulo Giardini interpreta, com competência e firmeza, um pai perdido na época atual em que vivemos. Destaque ainda para o figurino e caracterização dos atores.

Pronto. Agora escolha a sua opção, eu sugiro as três, e não perca nenhuma das peças acima. Diversão garantida, cada uma ao seu estilo, com inovações tecnologicas, discussões sobre seres humanos, excelentes atores, diretores e textos instigantes. Dia 19 de março comemoramos o dia do teatro no Brasil. Então, vá comemorar o teatro, e me chame!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Resultado do Prêmio Shell de teatro 2011

Ontem, no Jockey, foram premiados os seguintes artistas:

Ator - Charles Fricks, por "O Filho Eterno"
Atriz - Dani Barros, por "Estamira - Beira do Mundo"
Direção - Christiane Jatahy, por "Julia"
Autor - Felipe Rocha, por "Ninguém falou que seria fácil"
Música - Marcelo Castro, por "Um Violinista no Telhado"
Iluminação - Maneco Quinderé, por "Palácio do Fim"
Figurino - Gabriel Villela, por "Crônica da Casa Assassinada"
Cenário - Fernando Mello da Costa, por "Um coração: Fraco"
Categoria Especial - Teatro Tablado, pelos 60 anos de atividade; e Marcia Rubin, pela direção de movimento dos espetáculos "Escola do Escândalo", "O Filho Eterno", "A Lua vem da Ásia" e "Outside: um musical noir"

A todos, parabéns pelo prêmio! Merecidos!

quarta-feira, 7 de março de 2012

OS MAMUTES

Estreou no início de março o espetáculo Os Mamutes, na arena do Espaço Sesc . Geralmente, quando escrevo comentários sobre uma peça, tento fazer um paralelo com a minha história. Dessa vez o texto de Jô Bilac se superou. Tudo ali dito faz parte das loucuras que eu já havia pensado, das brincadeiras de criança que eu já participei, principalmente na minha cabeça louca. Nem vou contar um pedaço disso, pois é tão íntimo, e Jô Bilac me atingiu tão profundamente, que só me cabe aqui começar aplaudindo.

Os mamutes são pessoas que não têm a menor importância para a humanidade e aí são transformadas em hambúrguer. Ninguém se preocupa com elas, ninguém reclama sua ausência, elas não tem a menor importância para ninguém. Ora, pois, se não servem para nada, servem para serem comidas. E aí começa a caçada ao mamute perdido. Nem parece a primeira peça, escrita aos 18 anos, do já premiado e comentado autor. Tem tudo ali que importa no teatro: critica social, humor, ironia, reflexão e conclusão. Gosto quando a plateia sai do espetáculo pensando no assunto. Modificada. Os Mamutes nos modifica.

Os atores do grupo formam um conjunto de grande competência. Não há como destacar um ou outro. Todos estão confortáveis e muito bem encaixados em seus papeis. Por ordem de entrada em cena, Débora Lamm faz uma garotinha incrível, cheia de questões e maldades imaginativas típicas. Diogo Camargo interpreta o jovem mocinho, em busca de seu lugar ao sol, cheio de perguntas, criticas sobre o dia a dia das pessoas comuns. Zé Wendell e Júnior Dantas são hilários como os gêmeos donos da empresa de hambúrguer. Ricardo Souzedo é aquela consciência do bem contra o mal e até do mal contra o bem. Iano Salomão é um romântico e Juliane Bodini divertidíssima como a mulher bomba. Carolina Pismel impagável como Frenesi. Jefferson Schroeder brilhante como Lola Blair. Luiz Antônio Fortes carismático com seu Squel e Cristina Flores a própria Shiva, inteira.

Na parte artistica, Nello Marrese, sempre competente, cria uma cenografia limpa, com poucos objetos, porém delicados e necessários. Flávio Souza acerta em gênero, número e grau no figurino. Renato Machado transforma a iluminação em personagem necessário à trama, fazendo um colorido em cena, iluminando momentos importantes como se fosse um poema. Sem a preparação corporal de Daniela Amorim, não sei como todos estariam vivos ao fim do espetáculo!

E é Inês Viana quem comanda esta deliciosa comédia. Acompanho o trabalho desta atriz faz tempo. A Mulher que Escreveu a Bíblia é uma das minhas peças favoritas. Depois com Cochambranças de Quaderna, Inês mostrou que é mais que delicada, severa, rígida e inteligente. Sua direção para Os Mutantes, pra mim, é perfeita. Ninguém faria melhor. A arena do Espaço Sesc pede um espetáculo ágil, onde os 360 graus de plateia possam ter o mesmo sabor, de onde quer que assistam, e Inês consegue isso como poucos. Vemos aparecer uma diretora adormecida, que como um vulcão mostra todo seu talento e, arrisco a dizer, via roubar a cena teatral carioca e colocar muito diretor consagrado no bolso. Prêmio Shell para a direção de Inês Vianna já!

Os Mamutes é um Jô Bilac da melhor qualidade, um elenco de primeiro time, uma equipe técnica nota dez e uma das melhores direções de teatro dos últimos tempos.