segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O TEATRO EM 2019


Já que muitos estão escrevendo sobre os seus preferidos de 2019, segue a minha listagem dos espetáculos marcantes deste ano:

3 Maneiras de Tocar No Assunto
A Cor Purpura
A Verdade
A Vinda do Messias
As Crianças
Diário do Farol
Distorções
Eu Sempre Soube
Eu, Mãe
Homem Feito
Irma Vap
Isso que Você Chama De Lugar
Macunaíma
Mãe Fora da Caixa
Monstros
Nastácia
O Amor como Revolução
O Amor em Tempos de Bossa Nova
O Recital da Onça
O Substituto
Os Impostores
Quebrando Regras
Relâmpago Cifrado
Subnormal
Sylvia
Teatro Para Quem Não Gosta
Todas as Coisas Maravilhosas
Versão de 2

As atrizes de 2019
Cristina Fagundes em Eu, Mãe
Flávia Pyramo por Nastácia
Miá Melo por Mãe Fora da Caixa
Regina Casé por O Recital da Onça
Rosane Gofman por Eu Sempre Soube
Soraya Ravenle em Monstros
Stella Freitas por As Crianças
Susana Nascimento em Os Impostores

Atores de 2019
Alexandre Lino por O Substituto
Diogo Vilela por A Verdade
Leonardo Netto por 3 Maneiras de Tocar no Assunto
Luis Miranda por Irma Vap
Rodrigo Fagundes por Sylvia
Thelmo Fernandes por Diário do Farol

Diretores de 2019
Bia Lessa por Macunaíma
Daniel Herz por Isso que Você Chama de Lugar
Fabiano de Freitas por 3 Maneiras de Tocar no Assunto
Flavio Souza por Piquenique
Joana Lebreiro por Mãe Fora da Caixa
Jorge Farjala por Irma Vap
Marcus Alvisi por A Verdade
Miwa Yanagizawa por Nastácia
Rodrigo Portela por Os Impostores e As Crianças
Victor Garcia Peralta por Monstros

Texto de 2020
Cristina Fagundes por Eu, Mãe
Daniel Herz por Isso que Você Chama de Lugar
Gustavo Pinheiro por Os Impostores e Relâmpago Cifrado
Leonardo Netto por 3 Maneiras de Tocar no Assunto
Marcio Azevedo por Eu Sempre Soube
Mariana Rebello por Versão de 2
Rafael Souza Ribeiro por Homem Feito
Stella Maria Rodrigues por Quebrando Regras

Cenário de 2019
Natalia Lana por A Cor Purpura
Marco Lima por Irma Vap

Iluminação de 2019
Rogério Wiltgen por A Cor Purpura
Cesar Pivetti por Irma Vap

Figurino de 2019
Marcelo Marques por Cole Porter
Ronaldo Fraga por Nastácia

Teatro para crianças de 2019
Piquenique
Suelen, Nara e Ian
Ombela – a origem das chuvas
A menina Kung fu

domingo, 10 de novembro de 2019

RELÂMPAGO CIFRADO


     Dentre os trânsitos astrológicos que andam regendo meus últimos dois anos (tempo), o mais forte é o que me faz olhar para o outro e entender a sua condição de vida (empatia). As mentiras que criamos para seguir vivendo (tempo) sem tocar numa ferida, fugir de alguém e evitar um problema, ações de autodefesa, são alimentos para a negação da realidade. Empatia, tempo e mentira: palavras fundamentais na hora de se tomar uma decisão, seja na vida pessoal ou profissional. Até que ponto eu acredito nesta tese para seguir por aquele caminho? A minha ação terá consequência? Prejudica alguém?
     Relâmpago Cifrado está em cartaz no Teatro PetraGold, palco Marília Pêra. Com os ingredientes empatia, tempo e mentira, Gustavo Pinheiro escreve mais um texto de altíssimo nível. Duas médicas têm diálogos sérios, cheios de ironia, dúvida, desconfiança, “pegadinha”, testes: uma jovem procura uma especialista pedindo aval para realizar uma pesquisa numa grande universidade. Surpresa com a determinação da primeira, e espantada com o contato, a doutora testa a colega, faz perguntas sobre sua vida pessoal para obter respostas sobre seus comportamentos. A peça vai se construindo junto com o público. Nada é nos dito de início e as surpresas aparecem a cada curva de tempo. Usando a boa literatura, diálogos ácidos e inteligentes, citando Carlos Drummond de Andrade, o resultado não poderia ser menor que excelente.
     No palco, o cenário de André Sanches é composto por ampulhetas estilizadas. O figurino de Carla Garan é leve e elegante. Tudo iluminado por Aurélio de Simoni com suas sombras marcantes que escondem as verdades dos personagens. A trilha sonora é de Leila Pinheiro com seu piano acústico.
      Ana Beatriz Nogueira e Alinne Moraes são as duas médicas. Alinne se empresta, com dedicação e carisma, para a jovem ousada, que tem como motivador o desejo profissional de partir em busca de novos horizontes, apesar dos muros erguidos, das armaduras. Nos passa bem a ansiedade, a insegurança, e o titubear nas tomadas de decisão. Ana Beatriz Nogueira é a médica especialista, que testa a colega o tempo inteiro. Sem perder uma vírgula, acertando (sempre!) em todas as entonações e expressões, Ana Beatriz é uma aula de interpretação. Seu monólogo (três páginas!), nas últimas cenas da peça, é feito com tamanha segurança, confiança e empatia (pelo personagem) que a plateia nem pisca.
    Todo isso nas mãos dos diretores Leonardo Netto e Clarisse Derzié Luz, cientes de que esta é uma peça de comportamento e diálogo, onde o trabalho de direção de ator – expressão facial, porte, entonações vocálicas – é muito mais necessário que movimentação. Além de uma ótima embalagem (luz, som, ampulhetas e roupas), a direção sabe que tem em mãos um texto de qualidade e duas atrizes de primeira linha.
    Quando o teatro discute comportamento, ética, consequências, causas e a sociedade é retratada, está se prestando um serviço de igual poder à terapia de grupo ou aula com debates. Assistir a Relâmpago Cifrado é tão relevante quanto ler um livro de psicologia, assistir vídeo do professor Leandro Karnal ou palestra do filósofo Mário Sergio Cotrella sobre ética. Saímos todos questionando nossas atitudes e com um pouco mais de empatia. Que o tempo seja nosso aliado. Viva o amor e Drummond! Viva Relâmpago Cifrado!