domingo, 13 de dezembro de 2015

O LIVRO DOS MONSTROS GUARDADOS


Qualquer sala de espera, ou fila, é algo que torra paciência. Sem um livro ou smartphone em mãos para passar o tempo, o que fazer? Eu invento vidas para quem está ao meu redor. Pela roupa e comportamento, crio nome, dou morada, profissão, estilo de vida, voz. E tudo olhando para a pessoa que nunca vi na minha vida! Sou maluco?

Todos nós temos segredos guardados além de sete chaves. Coisas que não contamos nem na terapia. Vergonha de descobrirem seu podre? Desejo de ter algo para si que ninguém mais saiba? Dia sim, dia também alguém joga uma bomba no facebook: gosto deste cantor brega, como macarrão com feijão, durmo de pijama do Bob Esponja, me julguem! E, na maioria das vezes, o “eu também!!” de vários “pecadores” se segue à confissão do corajoso.  Ninguém tem a cara de pau de expor suas melhores ou piores atitudes, sejam elas sexuais,  comportamentais, seja em família ou em rodas de amigos. Pensamentos que a sociedade recriminaria, atitudes que levariam cristão à chibata! Todos temos. Porém, não se esqueçam: pensamento é comportamento.

Está em cartaz no Teatro do Centro Cultural da Justiça Federal “O Livro dos Monstros Guardados”, texto de Rafael Primot. Bebendo na fonte dos filmes Babel, Crash, entre outros, as histórias, contadas em primeira pessoa pelos próprios personagens, se interligam em um simples acontecimento, seja ele a demissão de um funcionário, o atropelar de um cachorro, um bate-papo virtual, uma vizinha de prédio. Tem louco que confessa sua sanidade para usufruir da boa vida, tem homem de família com as maiores taras sexuais, tem menina que aceita por conveniência viver com a mãe e a “tia” amiga da mãe, tem o funcionário da locadora que nunca transou, o menino com problemas na bexiga intrigado por uma velha na janela e uma atendente de Organização de Valorização da Vida que resolve fazer justiça com as próprias mãos. Confessar, pra que?

Rafael toca em tabus sociais e dá voz a pensamentos mirabolantes, atitudes escabrosas e reais, que a podre humanidade pensa e age em sigilo. Podres poderes? Possíveis de serem realizadas na escuridão e no anonimato? São realmente monstros que devem ficar guardados? O texto é ótimo, fluente, dinâmico, criativo e engraçado. A chegada deste O Livros dos Monstros Sagrados ao teatro é em boa hora. Se demoraram a montar, se ficou dormindo na gaveta, como diz uma amiga, Deus Agenda Tudo. Eis a resposta!

Com toda sua sabedoria e competência de sempre, João Fonseca empresta seus monstros guardados para a direção da peça. Valorizando a palavra, partituras corporais, definindo com poucos objetos o cantinho de cada personagem. Amo muito tudo isso!! Teatro como eu gosto. Rafael também assina a direção.


Nello Marrese no cenário e figurino sempre com bom gosto e Adriana Ortiz na luz competente, encabeçam a equipe técnica que tem ainda João e Rafael como compiladores de trilha sonora. Tudo com o apoio dos grandes Letícia Napole e Giba Ka na produção.


É o elenco que, além do texto, mais brilha neste espetáculo. Rafael Primot, faz muito bem o maluco-são (personagem criado por Daniel Pellizari no conto "O Voo das Ovelhas"). Será são mesmo? Carolina Pismel dá um show como a pequena Magali! Aplausos de pé em cena aberta! Jefferson Schroeder, também excelente como o maníaco por limpeza, cada vez brilhando mais em seus personagens, melhora a cada trabalho. Leandro Daniel apresenta um homem com todas as taras sexuais possíveis e encara de frente o desafio de falar um texto muito difícil, sexualmente falando, sem o menor pudor ou vergonha, totalmente protegido pelo personagem. E faz com muita qualidade e verdade. Erom Cordeiro é o atendente de locadora, cuja monstruosidade é atropelar cachorros (personagem criado por  Daniel Galera para o texto "Manual para Atropelar Cachorro"), mas, por outro lado, é um sexualmente reprimido, o que para os psicanalistas de plantão seria uma compensação. Erom é forte em defender o papel.  Laila Zaid, engraçada por si só, vive a atendente da empresa de valorização da vida e passa verdade em suas atitudes. Não menos importante, Guilherme Gonzalez tem a difícil missão de viver um garotinho com problemas na bexiga e que tem a curiosidade sobre uma senhorinha na janela a caminho na escola. São trabalhos bastante individuais, eficientes e, no todo, formam um elenco dos melhores.


Tenha você o seu monstro, a sua história guardada, mas não perca este espetáculo. Um ótimo texto, atuações de qualidade, que valorizam a nova dramaturgia brasileira, mostrando a garra que a arte de escrever e atuar precisam para o teatro se manter vivo! Leve seus monstros ao teatro e vá assistir o mais rápido possível a’O Livro dos Monstros Guardados às quartas e quintas, até fim do ano, depois voltam em janeiro!!

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Viva Marília Pêra!

Quando assisti a'O Mistério de Irma Vap, no teatro Casa Grande, descobri a paixão pelo teatro. Foi ali que fui mordido. Ali que eu comecei a sonhar com teatro. Quem dirigiu? Marília Pêra. 

Assisti a várias peças encenadas por ela e sempre babei pelo seu trabalho. Quando vi Hello Dolly, recentemente, também no Casa Grande, sentei na segunda fila e, de lá, sentia seu perfume, não tirava os olhos dela no palco. Ao final, esperei pra falar com amigos do elenco. Ela saiu, mas não tive coragem de falar com ela. Eu a amava como profissional e atriz. Todos temos nossas favoritas. Marília era a minha favorita. É. 

Em 2014, fizemos uma celebração à vida. Em homenagem ao dramaturgo Luiz Carlos Góes, meu amigo Joaquim Vicente montou um cabaré-festa-celebração no Teatro Cândido Mendes. Ele meu deu uma incumbência: "Você fica à disposição da Marília. Ela vem e só você pode cuidar dela". Olha a reponsa... Eu estava do lado de fora do teatro, onde já aconteciam as leituras e cantorias. Ela chegou, me apresentei com "seu criado". Ela riu e disse "deixa de ser bobo!". Rimos. Eu, tenso, fiz várias perguntas, no que ela simplesmente me olhou e disse "Tantas perguntas..." . Ri e me calei. Eu estava tremendo. Ela notou e riu "Não fique nervoso." Relaxei. Passamos 3 minutos juntos os dois. Vendo uma apresentação. Ela comentou coisas comigo que não lembro, mas concordei pois ela sabia de tudo. Rimos. Ela sentou-se na cadeira e eu ali, um olho na atração outro na Marília. Deu tudo certo. Ao final, ganhei mais 1 beijo. Amor eterno.

Ao Joaquim, que me deu este presente, muito obrigado.

À Marília... meus aplausos sem fim. Obrigado. Obrigado. Obrigado.