domingo, 23 de outubro de 2011

PALÁCIO DO FIM

Era janeiro, 1996, aniversário de um amigo. Estávamos na casa dele comemorando, quando as primeiras bombas caíram sobre o Oriente Médio. De lá pra cá foi uma chuva de misseis. Ainda mais agora com internet e televisões on line, assistimos às guerras "in loco". Vimos a queda das Torres Gêmeas, a guerra do Afeganistão, a caçada a Saddam, a Bin Laden e agora aos ditadores do norte da África e países que banham o mar Mediterrâneo. Sem sombra de dúvida, a maior guerra é a econômica. Tudo, na minha vã filosofia, é o dinheiro. Os países "ricos" financiaram as ditaduras com armas, dinheiro e munição. Aí, os países financiados se fecharam para a economia dos países ricos, principalmente no quesito "petróleo". A sábia solução foi "devolver o país ao povo" para que voltem a consumir. Que guerra santa que nada. Isso é tudo pano de fundo, interesse político, e, acima de tudo, interesse econômico.

Assistimos chocados às fotos divulgadas pela internet da prisão de Abu Ghraib, que é um complexo penitenciário situado na cidade de mesmo nome, no Iraque. Para espanto, esta foi construída pelos britânicos quando o Iraque ainda era uma colônia da Grã-Bretanha. Pronto, aí está a prova de que de lá nunca saíram. E ainda voltaram sob a chancela de salvadores da pátria.

Mas o tema aqui não é política internacional e sim Teatro. E dos bons. Desses que discutem, chocam, mostram a realidade, e você sai de lá pensativo, mexido, incomodado. Assim é Palácio do Fim. Escrita pela premiada canadense Judith Thompsom e muito bem traduzida e adaptada por João Gabriel Carneiro, a peça conta a história, em depoimentos, de 3 personagens da guerra no Iraque. Uma, aquela soldado mocinha das fotos que tortura prisioneiros de guerra na prisão de Abu Gharib com armas e animais. Outra é de um cientista iraquiano que afirma que as tais armas nucleares, mote da invasão, nunca existiram. E por fim o depoimento de uma mãe que ouve seu filho ser massacrado. Três vidas que depõem sobre sofrimento, vergonhas, temores, arrependimentos. Seres humanos profundamente maculados e feridos por uma guerra que eles não pediram pra participar.

No palco, o cenário de Marcos Flacksman é composto de patamares e um tecido ao fundo com as bandeiras dos EUA, Inglaterra e Iraque, sobrepostas por imagens projetadas. O figurino excelente de Beth Filipecki e Renaldo Machado dão o certo estilo do árabe e do uniforme. A criativa, limitadora e angustiante luz de Maneco Quinderé dá o tom do espetáculo com sombras, linhas imaginárias, pressão, prisão. Um show!!

A frente do batalhão de infantaria teatral, dirigindo com firmeza, realismo, competência e necessária realidade, José Wilker deixa os atores se envolverem de tal maneira com o texto que ao final do espetáculo estão tão, ou mais, desgastados que os próprios personagens da vida real. Uma direção intensa na palavra, nas nuances vocais, na correta alternância entre as histórias.

Emocionando a platéia, prendendo a atenção sem um segundo para se piscar, Vera Holtz, Camila Morgado e Antônio Petrin estão espetaculares nas suas interpretações. Todos vivem aquelas histórias e passam suas emoções, nojos, medos, indignações, sem criticar os personagens. Seria necessário muito adjetivo para definir a entrega total dos três grandes atores a seus personagens. Atuações para entrarem na história de suas carreiras.

A guerra no oriente médio, e agora no norte da África, está longe de acabar. É preciso vender armas, é preciso recuperar as economias européias e americana falidas. É preciso achar um pra Cristo, coloca-lo na boca do povo, fazer dele o inimigo numero 1, linchá-lo em praça publica, no youtube, ao vivo, on line, em nome da Guerra ao Terror. Saddam, Osama, Kadaffi... quem será o próximo anti-cristo fabricado, endeusado, empossado, execrado e exumado?

Se você também fica indignado com tudo que vê acontecer e não sabe como reagir, corra pra ver Palácio do Fim. A autora, os atores, direção e equipe técnica dão a resposta à altura. Isto tem que ter um fim. Espetáculo obrigatório.