quinta-feira, 2 de julho de 2009

MALENTENDIDO

Sempre procuro ler as criticas de cinema e de teatro avaliando o que há de bom no texto escrito e se com isso vale a pena ir ao cinema ou a um teatro perto de você. As vezes nao acho nada no texto que me atraia a ir buscar o entretenimento. Leio criticas de peças de teatro em que estas sao consideradas "da classe das boas intenções". E como se isso fosse uma coisa ruim. Ok, de boas intenções o infrerno está cheio. Mas se existe uma boa intenção ela tem q ser valorizada. Recentemente fiz um diagnóstico de um espetáculo em que não gostei de nada e olhando bem pra peça, nao existia nenhuma boa intenção no que se mostrava. Daí, escrevi e colhi boas e más respostas. Aprendi. Quando nao existir a boa intenção e tudo for ruim, a gente simplesmente ignora. É melhor.

Mas voltando às boas intenções. Bons espetáculos nao necessáriamente precisam ser ótimos para serem vistos pela população que gosta de teatro. Uma peça boa é muito bom! Infelizmente pra alguns criticos ser bom nao basta. E aí... pau na peça e no filme. Mas o bom existe e merece ser aplaudido. E as boas intenções que transformam uma peça em "bom espetáculo" também merecem ser vistas.

Voltando às boas intenções, uma mãe e uma filha que têm boas intenções em aceitar cavalheiros em sua pensão e matar para roubar o hóspede, nao é definitivamente uma boa intenção. Ainda mais quando se espera pela volta de um filho homem à casa que abandonou faz tempo. E nessa esperança da volta, a cada morte matada, fica a duvida se este morto era o filho. Até que isto realmente acontece. Hi, falei!

O texto de Albert Camus eu nao tenho competencia para comentar. Gosto dos diálogos, mas acho a argumentação, a idéia da peça escrita, sem muito nexo. Pra mim nao ficou claro, no texto, se a intenção era matar os hóspedes por prazer ou por vingança. Nao entendi bem o porquê de se matar a todos. E se elas matavam a todos... Mas quem sou eu pra entender um autor clássico de teatro?

Gosto da direção do espetáculo. Calma, com respeito ao texto e aos atores. Claro que de tanto ir ao teatro, já decorei algumas marcas clássicas que os diretores e atores usam para se sentirem seguros no palco com o texto a ser dito. Mas isso nao diminui nem invalida o uso de marcas rotineiras. Todo mundo usa sal na comida. O dificil é a dosagem. E nesta peça, a dosagem de marcas rotineiras é boa.

O cenário do Marcelo Marques é um achado! Conversei com ele após a peça e apaixonado pelas excelentes mudanças ocorridas durante a peça, o cenário gira, sem girar... como? Só vendo! Os móveis muito bem escolhidos, como sempre pelo bom gosto do Marcelo. Gosto muito do fundo do palco simulando a área externa da casa, resultado de uma grata contribuição de uma demolição na casa de um amigo da produção. Muito bem colocado e explorado pelo diretor e pela iluminação.

O figurino é de ótimo gosto totalmente de acordo com a época, estilo da peça, e classe economica dos personagens. Também de Marcelo Marques.

A luz do Renato Machado sempre abusando do fog, também é muito bela. Sombras e focos que dão o clima sórdido do espetáculo.

E é no elenco que encontramos todas as boas intenções reunídas. A começar pela idealização da atriz Carolina Virgües que está bem no papel da filha "esquecida" pela mãe, que se preocupa mais com o filho q foi, do que com a filha que ficou e se tornou a empregada do lugar. Carolina passa para nós um sofrimento contido que explode em uma catarse final onde todas as mágoas sao "vomitadas" sem poupar coração (como diria Nana Caymmi...). Senti um pouco de frieza nos momentos em que era necessária uma emoção maior. E se a peça continuar em cartaz certamente Carolina vai dar uma pequena adoçada na personagem, pq esta filha, apesar de ser muito castigada, quer mesmo é ser amada pela mãe e arrumar um bom partido.

Já a mãe, interpretada por Maria Esmeralda Forte é genial. Segura, firma, nos passa uma verdade e uma entraga total ao personagem construido. Maltrata a filha com pequenos gestos, espera o filho eternamente. Dor, sofrimento, angustia. Tudo vemos num simples olhar.

Completam o elenco Alexandre Dantas, como o filho e Ludmila Wischansky. Percebemos o esforço dos atores para acertarem seus personagens e se entregarem de corpo e alma a eles. Pra ficar melhor, só é preciso esquecerem-se de que estão interpretando e aturarem como se eles fossem mesmo aqueles personagens. Mas, sem duvida nenhuma, a vontade de fazer o melhor está lá. E ainda, no papel do criado, Pedro Farah. Fico na dúvida se este ator era o personagem "Múmia Paralitica" do "Balança mas nao cai" que dividia a cena com Agildo Ribeiro no quadro do Professor de Mitologia. Pra quem nao se lembra, era o cara q tocava uma sineta de hotel sempre q Agildo abusava de saliencias. Acho que o personagem está muito rígido a marcas. E, desculpe-me senhor autor e senhor diretor, mas nao sei pra que esse personagem...

Volto a dizer: um espetáculo cheio de boas intenções é um espetáculo q merece ser visto. E ser da classe das boas peças de teatro, sim, é pra se comemorar.

Pra quem gosta de drama, afinal teatro é comédia e drama, vá ver esta peça. Um excelente exemplar do que o drama no palco pode mudar um pouco a vida dos espectadores.

Abraços!

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