sexta-feira, 31 de julho de 2009

MOBY DICK


Todos nós temos, em algum momento da nossa vida, uma obstinação, uma fixação por algum assunto, ou por algum objetivo que se quer atingir a qualquer preço. Seja subir no emprego, comprar determinado bem, atormentar a vida daquele namorado que te largou, ou ainda, correr atrás daquela mulher que é a da sua vida, mas ela ainda não sabe. Obstinação, determinação. E nem adianta um amigo chegar para você e dizer "cara, acorda, isso não vai te levar a lugar algum, volta pra sua vida... esquece isso". Não adianta. A gente só para quando quebra a cara, ou percebe que o objetivo mudou.

Assim é a história de Moby Dick. Bem, na verdade Ismael, o perseguidor implacável da baleia cachalote que arrancou sua perna. Ele quer a todo custo "se vingar da bicha". E não há santo que o faça demover da idéia.

Está em cartaz no Teatro Poeira a mais nova produção do proprio teatro com direção do Aderbal Freire Filho, que também assina a adaptação do livro do autor americano Herman Melville.

O elenco embarca na montagem do Aderbal. André Mattos divertindo a todos com sua imitação de Paulo Francis, no melhor momento da peça, atua com total segurança do seu papel; Isio Ghelman, sempre competente, embarca em nova aventura, já iniciada com O Pucaro Bulgaro; Orã Figueiredo, também abraçando o papel de marujo à caça da baleia, em um tom um pouquinho acima dos demais, pode baixar a voz que ficará excelente; e Chico Dias ótimo como o perseverante Ismael e, claro, como a propria Moby Dick.

O cenário... bem... minha paixão diz que é excelente. Um barco no centro, as vezes se passando por sala de reunião. Tudo com caixinhas onde os atores guardam arpões, roupas, livros, caixinhas essas com dobradiças, tudo muito bem envelhecido pelo tempo, com o apoio de cordas de cisal, algodão igualmente e carinhosamente envelhecidas. Merece aplauso de pé este cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque.

O figurino de Kika Lopes, como sempre, é correto e acerta nas cores, no frio mar do Atlântico Norte, nas boinas, enfim, transforma os atores realmente em marujos e em personagens que contam uma história sobre a vontade de se alcançar o objetivo.

A luz do Maneco quinderá é linda, principalmente nos momentos da baleia branca, em que Chico Dias parece liberar para a platéia mais luz do que o normal. A trilha sonora do Tato Taborda, como sempre no ponto certo, volume correto, barulhinho correto. Uma salada de sons gostosa de se escutar.

E, no comando desta orquestra, Aderbal, que faz uso de suas ultimas peças dirigidas no Poeira em benefício de uma história nova.

O mal de se ir ao teatro muitas vezes, assistir a muitas peças, é que a gente descobre recursos cênicos de direção já utilizados por diretores e atores em outras peças. Mas até que ponto isto nao é a marca do diretor? Até que ponto o proprio diretor se permite usar uma marca já bastante fixada em outras peças, a favor deste novo trabalho? Claro que criatividade não falta, basta ver a peça. Mas eu vi marcas iguais as do Pucaro Bulgaro.

A peça é realmente uma aula de produção. Tudo é otimo. Interpretações, equipe técnica competente com resultados lindos em cena, mas a peça, talvez por causa do texto, ou mesmo das repetições de marcas já vistas, me deixou com um ar de "eu ja vi isso antes, mas era outro assunto" e confesso que fiquei um pouquinho (só um pouco viu?) decepcionado com a peça.

Sem sombra de dúvidas a peça é uma aula de teatro. Obrigatório para quem gosta deste entretenimento, admira a equipe técnica e tem como objetivos chegar a ser algum dia alguem na vida artisitica carioca.

Vá ver. Vale a pena.

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