segunda-feira, 15 de março de 2010

ERA NO TEMPO DO REI

Em 2008 li o livro "1808" (Laurentino Gomes) que conta a chegada da Familia Real Portuguesa ao Brasil, fugida de Napoleão (aquele...). Em 2009, tive o prazer de conhecer Portugal, fui de Lisboa a Guimarães (onde tudo nasceu) e aprendi um pouco da história de lá, e consequentemente da história de cá. Em 2010, devorei a segunda edição do livro "O Português que nos Pariu" (Ângela Dutra de Menezes). Depois de um mês em Lisboa, retornei ao Brasil em março de 2009, mas meu coração e minha alma só chegaram (de verdade), em outubro, quando estive em Salvador e pude observar que, de fato, somos (?) quatro cidades irmãs: Lisboa, Porto, Rio de Janeiro e Salvador. Pronto, não havia mais motivos para "continuar" lá. Aqui também é Portugal, e lá também é Brasil.

Ruy Castro também entrou na roda dos 100 anos da vinda da Familia Real e, em 2007, lançou "Era no tempo do Rei", um romance histórico, cômico, que promove o encontro de D Pedro I, com o protagonista de um dos clássicos da literatura nacional, Leonardo, de 'Memórias de um sargento de milícias', escrito por Manuel Antônio de Almeida. Por obra do acaso, os dois, ainda adolescentes, acabam se tornando amigos e participando de uma aventura capaz de mudar os rumos do país e até do mundo. Não cabe aqui contar as aventuras e nem o fim desta história, para isso, o teatro está lá, para ser visto.

A adaptação do livro para o teatro, feita por Heliosa Seixas e Julia Romeu, consegue pegar as principais partes do livro, as principais histórias e transpor para o palco em texto e em música. Dessa forma, conseguimos ter boa parte do romance de Ruy Castro muito bem desenhado no palco.

Completando o texto, as músicas, afinal é um musical. E quem nos alimenta com músicas e letras impecáveis? Carlos Lyra e Aldir Blanc, claro. É música das boas. Saí cantarolando algumas partes das canções e ri de outras, pois a história e a História estão preservadas e muito bem contadas através das melodias. Temos minueto, fado, valsa, choro, vira, batuque e marcha rancho. Temos letras bem cantadas, muito bem compreendidas pelo publico e executadas com excelência pelos musicos, dirigidos por Délia Fischer, que homenageando a bossa nova, criou um arranjo para uma determinada música que lembra "O negócio é amar", de Carlos Lyra e Dolores Duran.

Nello criou um competente e belo cenário. Piso de pedras pintadas, casario bem ao estilo Debret e quadros gigantes simbolizando o interior do Paço Imperial. Consegui ver perfeitamente que estamos falando daquela região entre a Praça XV até a Candelária, entrando e saindo pelo Arco do Teles e parando na porta do Real Theatro de São João, na Praça Tiradentes, que é a casa de espetáculos mais antiga do Rio de Janeiro, inaugurado em 13 de outubro de 1813. Atualmente este é o Teatro João Caetano, onde a peça está sendo encenada. Cenário criativo, histórico e muito bem construído. O Figurino de Ney Madeira também não deixa nada a desejar. Muito bem confeccionados, de bom gosto (como sempre) e parecendo que os atores acabaram de sair de uma tela de Debret. Mas a luz de João Paulo Neném... meus amigos... que luz. Queluz! Sem trocadilhos, diria que é uma luz palaciana, de tão bonita. Impecável, conseguindo fazer uma fotografia só vista em cinema. Premio Shell, anota.

O elenco está muito bem. Leo Jaime e Isabela Bicalho fazem um par divertido como Dom João e Carlota Joaquina; Tadeu Aguiar, Rogério Freitas e Luiz Nicolau defendem seus papéis com valentia, sotaque e precisão; mas são Alice Borges, André Dias e Soraya Ravenle que dominam o palco quando aparecem. Que atuações! E, não menos importantes, Christian Coelho e Renan Ribeiro, interpretam Dom Pedro e Leonardo, respectivamente. Perdão, mas meu coração pulsa mais por Renan, pois o vi miúdo ainda na novela "Alma Gêmea", recém saída do "Vale a pena ver de novo" e agora vejo um grande garoto, cantando com beleza, afinação e uma atuação livre de amarras, ousada e sem medo. Completam o elenco, ora como coro, ora como povo, os atores Jefferson Almeida, Ana Terra Blanco, Raí Valadão, Evelyn Castro (que eu ví no Raul Gil homenageando Abel Silva recentemente na BAND), Bruno Camurati, Flavia Santana e Darwin Del Fabro.

Sueli Guerra é danada na arte de coreografar e na direção de movimento. Sabe tudo. Aplausos de pé. Consegue fazer dom João dar piruetas de minueto e consegue fazer dona Maria, a Louca, dançar um can-can no meio de uma valsa! Céus! Genial!!

E... na direção geral, ninguém mais, ninguem menos que João Fonseca. Outro Shell (olha eu distribuindo o prêmio dos outros!)! Prezados leitures, com todos os elogios feitos aí em cima nessas mal traçadas linhas, vocês acham que é por obra e graça de quem? Existe uma mão sábia e poderosa, que eu tive a honra de beijar (igual a Dom João, no seu trono, em momento beija-mão) e dizer "Querido, é uma honra poder te abraçar, poder olhar para voce e dizer: tu és f***da! Lá vem mais Shell". João ri. Sabe que as palavras têm poder. É apenas um comentário de um fã que acompanha tudo que ele faz. E ele é um gênio. Sabe ser criativo até na hora de trocar o cenário! Ele merece.

Me emocionei. Senti saudades da "terrrrinha". Fiquei orgulhoso de ser brasileiro e poder ver um musical genuinamente nacional, contando nossas histórias, falando do Brasil, por brasileiros e para brasileiros. Tomara que a produção consiga levar escolas para verem a peça e que os alunos aprendam, não só como se faz teatro, mas que nossa História é rica em furdunços, risos e aventuras (amorosas ou não!).

Mais uma peça imperdivel estréia nos palcos cariocas. Tomara que todos possam assistir. Emocinado, recém chegado do teatro, agradeço a oportunidade de ter visto esta ópera.

5 comentários:

bruno disse...

Uau, adorei a crítica! Que bom que gostou! Foi um trabalho árduo que deu bom resultado! João é mestre mesmo!

Abs
Bruno Camurati

Marcelo Aouila disse...

Não tem como não gostar... é excelente! E voces todos estão ótimos! Parabens!

renanribeiro disse...

Obrigada Marcelo , por ter gostado e falado sobre o Renan , o trabalho foi feito com muito amor e profissionalismo ! e o Renan ama demais estar lá .
obrigada mesmo pelo reconhecimento isto é muito importante pra nós .

beijos

Jefferson Almeida disse...

Oi, Marcelo!

Obrigadíssimo pelas tão entusiasmadas/antes palavras.

É um prazer fazer o espetáculo, esperamos, sempre, que seja tão prazeroso quanto assistí-lo. Você, com sua resenha, nos mostra que o é.

Obrigadíssimo pela presença e pelo feed-back.

Abs,
Jefferson Almeida

Jahde Vaccani disse...

Olá!
Nos ajude a trazer a peça ERA NO TEMPO DO REI de volta, no teatro João Caetano, no Rio, assinando nossa petição e divulgando nosso site, para que possamos trazer a corte de volta!
www.eranotempodorei.tk
Contamos com você. Obrigada!