O único dia do único Rock In Rio que participei foi na abertura
da terceira edição. Como trabalhava ali perto, no Projac, deixei o carro no
estacionamento da empresa. Neste dia, a Orquestra Sinfônica abriu os trabalhos,
junto com a esquadrilha da fumaça. Depois, Milton Nascimento, Gilberto Gil, James
Taylor, Daniela Mercury e Sting encantaram o publico. Saí extasiado. Inesquecível.
Nunca mais participei do festival. Coincidência apenas. Acompanhei pelo
MultiShow o ultimo, lá no Parque dos Atletas, onde só fui conhecer quando
Madonna cantou por lá. E a experiência não foi boa. Como o próximo festival
também será naquele lugar, vai ser difícil a família Medina me ver por lá
novamente.
Estreou na ultima quinta feira uma belíssima homenagem ao
Rock In Rio na Cidade das Artes, Barra da Tijuca. A Grande Sala é imensa, os
lugares são confortáveis, ótima acustica e o ar condicionado funcionou bem.
Alguns probleminhas na chegada e partida, infra-estrutura rudimentar do lugar, mas
que tenho certeza que logo serão corrigidas. Fora isso, é um mega complexo de
boas intenções. Oremos.
No espetáculo “Rock In Rio - o Musical”, o texto é de
Rodrigo Nogueira. Esse garoto é bom! Já vi uns 4 espetáculos escritos por ele e
sempre me surpreendo com sua capacidade e sua qualidade nos diálogos. Palavras
raramente usadas são muito bem empregadas. Rodrigo escreve bem, tem carpintaria
teatral, faz um excelente jogo de palavras e de cenas com os 4 personagens
principais, atualiza as piadas, sabe onde quer chegar. Os personagens criados
por ele para contar esta história estão bem caracterizados, sem exageros.
A história: um rapaz que se comunica através
da musica (não fala), e uma menina que detesta musica (e fala pelos cotovelos),
se conhecem e se apaixonam. Ambos sofreram traumas de infância relacionados às
suas famílias. Ao longo do espetáculo, referências sociais a um Brasil do
passado, a insana luta do criador do festival para manter vivo o seu sonho, a
humilhação do empregado feita pelo patrão opressor, a discussão sobre uma
doença contagiosa. Gostei desta salada. O texto é bastante inteligente abrindo
espaço para que as palavras sejam substituídas por música e deduções.
Na parte técnica, Nello Marrese e Natália Lana dão um show
no cenário! Bonito, possível, funcional, elegante, de bom gosto. Funcionando
muito bem para que o elenco possa ter espaço e que as cenas intimistas sejam
compartilhadas com a plateia. Destaque para as casas dos protagonistas e os
camarins em containers. No figurino Thanara Shönardie acerta em cheio na
escolha dos tecidos e cores para os personagens. A luz de Paulo Cesar Medeiros
é bonita e de bom gosto. Destaque mais que especial para a coreografia moderna,
ousada e linda de Alex Neoral. Diferente do lugar comum, Alex foi criativo e
inovador. Excelente seu trabalho. Delia Ficher assina a direção musical e os
ótimos arranjos e tem à sua disposição excelentes músicos formando a banda do
musical.
Encabeçando o elenco Lucinha Lins é a mãe do rapaz que se comunica
pela música. Uma das vozes mais belas de todos os tempos, Lucinha encanta,
dança e representa como ninguém. Suas interpretações musicais são o ponto alto
do espetáculo. Yasmin Gomlevsky, interpreta
a “Revoltadinha da Estrala”, canta muito
bem, atropela um pouco as palavras, mas acredito que seja pela ansiedade de sua
personagem, pois sua competência vocal é inegável. Guilherme Leme, como o pai
da mocinha, tem total segurança no papel, sabendo explorar a qualidade daquele
pai largado, ausente e que, mesmo frágil e com medo de enfrentar a vida, produz
um festival. Hugo Bonemer é Alef, o
mocinho, daqueles que toda menina quer para si, quer cuidar, quer proteger e
amparar. Hugo atua e canta muito bem, sua voz é ótima e seu Alef é um grande
personagem.
Destacando-se entre os personagens, Ícaro Silva vive Marvin.
Genial! Leve, solto, confiante e seguro em cena, Ícaro, com sua experiência em
Malhação e DJ de festas badaladas, segura a plateia nas mãos e com carinho. É a
grande (e boa) surpresa do espetáculo! Caique Luna se supera como Geraldo, o
gay afetado que controla todo o festival. Emílio Dantas interpreta Roger,
personagem difícil, que tem a missão de informar aos jovens que a prevenção é a
arma contra as doenças infecciosas, seja por droga, seja por sexo. Papel
importantíssimo no espetáculo, pois estamos vendo por aí, ainda hoje, o grande
numero de jovens se contaminando com doenças sem cura. Kakau Gomes e Luiz
Pacini dominam as cenas da loja de disco, numa simbiose total em cena. Marcelo
Varzea intrepreta um professor de faculdade que tem a árdua tarefa de ser o
interlocutor entre os revoltados alunos e a reitoria linha dura.
É grande o numero de atores. Porém todos estão muito bem em
cena: Bruno Sigrist, Liv Ziese, Romulo Neto, Karen Junqueira, Juliane Bodini,
Stephanie Serrat, Daniele Falcone, Sheila Matos, Alessandro Brandão, Cris
Penna, Bruno Fraga e Celo Carvalho. Todos cantando e dançando com competência!
Acho uma genialidade formar uma equipe que vibra na mesma
sintonia, que esteja afim de buscar o melhor para o espetáculo. E mais uma vez
João Fonseca é o maestro deste espetáculo. Assim como na minha única presença
no dia de abertura do 3º Rock In Rio com a OSB, vi ali na Cidade das Artes (que
seria a casa da OSB) um maestro comandando uma orquestra formada por atores,
técnicos, contra-regras, músicos, cenógrafos, figurinista, iluminador e
coreografia. Tudo funciona perfeitamente. João sabe dar velocidade quando
precisa e puxar o freio do espetáculo na hora necessária. As marcas são sempre
limpas. Claro que com um mega palco as vezes é impossível não correr para sair
de cena, mas são ossos do oficio. Não é necessário se rasgar elogios a João
Fonseca (amigo querido que não canso de elogiar). Vá ver a peça e tenha a
certeza de que seu trabalho é para ser aplaudido e premiado. É um dos seus
melhores trabalhos como diretor.
“Rock in Rio - o Musical” é sem dúvida uma declaração de
amor à musica e ao teatro. Rodrigo Nogueira escreve no programa da peça um dos
textos mais emocionantes que já li em programas de teatro. Concordo plenamente
com ele. Assim como o festival tem por objetivo transformar o mundo - “Rock in
Rio - Por Um Mundo Melhor” - esta peça mostra que, sim, a música é capaz de
mudar homens, atitudes e pensamentos.
Havia dito recentemente que “Priscilla, a Rainha
do Deserto” era o espetáculo que mais havia me tocado desde “O Mistério de Irma
Vap”. Pois “Rock In Rio - o Musical” acaba de entrar para a minha história
pessoal dos melhores espetáculos musicais que já assisti em teatro. Um
espetáculo brasileiro, sobre amor, música, explorando talentos nacionais de
qualidade, mostrando que o Rio e o Brasil sabem fazer espetáculos inéditos
voltados para a nossa realidade. Vida longa ao projeto. Um belo espetáculo que
merece ficar em cartaz até setembro de 2013,
quando teremos uma nova edição do festival Rock In Rio. Aplausos de pé de 15 minutos sem parar!
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