Dizer “adeus” não é nada agradável. Sempre me lembra aeroportos. Quando meu melhor amigo foi-se para Portugal passar uma longa
temporada de mestrado, no aeroporto éramos 4 amigos. Três choravam, menos eu.
Na hora do adeus, ele, ao meu ouvido ordenou “Fiquem todos juntos”. Pedi que ao
entrar para a sala de embarque não olhasse para trás, recordasse de nós 4
juntos e felizes. Além do que, não saberia conter as lágrimas de saudade prévia. Ela não me obedeceu e nos olhou. Um ultimo adeus apenas com o olhar. Éramos, então, quatro chorões num Galeão ainda sem apagões e sem
goteiras...
"A Garota do Adeus", de Neil Simon conta a história de
uma moça - que tem uma filha - recém abandonada pelo namorado - que não é o pai
da criança. Pra piorar, o safado subloca o apartamento para um colega ator. Daí
em diante, brigas, acordos, caras feias, luta por espaço, briga pelo poder,
admiração mútua, ajuda em momentos difíceis, sorrisos, troca de olhares e a boa
influencia da menina que vê no inquilino um novo amigo, causam o que todos
sabemos desde o inicio da peça: o surgimento do amor. E não é que o cara
resolve também largar tudo e cair na vida?
O espetáculo em cartaz no Teatro Fashion Mall tem adaptação e
tradução bem feitas, caprichadas e atuais de Edson Fieschi. Um belo trabalho de
pesquisa enriquecido com as gírias em moda na atualidade, que aproximam o
publico carioca do texto do dramaturgo americano.
A direção de Elias
Andreato segue um pouco a linha das séries americanas da Fox, Sony ou Warner.
Deduzimos o que vai acontecer em seguida. Mesmo com tantos degraus no cenário,
não há esbarrões, e a história flu com naturalidade. O maior trabalho foi, sem
duvida, nos mostrar uma Maria Clara Gueiros contida no papel da mocinha, sem
apelar para seus bordões de programas de humor na TV. Soma-se a isto ensinar e
conduzir a menina Luisa, estreando no Rio para uma plateia de convidados.
Mérito também de Elias Andreato é dar ao espetáculo uma leveza, para que a plateia,
que teve um dia exaustivo de trabalho, saia feliz e vá para casa satisfeita com
o espetáculo.
No palco, Edson
Fieschi está bem confortável - por ser muito íntimo do texto - no papel
principal do inquilino-futuro-namorado. Além de saber exatamente o que quer
dizer, Edson nos mostra um tom de humor inteligente, com pausas no momento
certo antes de soltar a bomba da piada, e espera, e tem, o retorno de suas
parceiras de cena. Gosto de sua atuação. Maria Clara Gueiros, como disse acima,
está muito bem como a garota que volta e meia é obrigada a dar adeus a algum
sonho: ora namorado, ora apartamento, ora emprego. Maria Clara tem presença
marcante no palco e só não rouba as cenas por conta de sua filha, interpretada
por Luisa Gonzáles, que no dia da estreia do espetáculo - e também sua estreia
na peça - parecia tão à vontade como se viesse de uma tournée nacional.
Luisa tem o carisma necessário para interpretar menina que torce pela mãe, sem
deixar de ter suas vontades infantis. Ótima em cena. Com personagens
complementares, Clara Garcia e Sérgio Maciel tem atuação discreta.
Na parte técnica,
o cenário do mestre José Dias abusa dos degraus - o que facilita a visão ampla
do espetáculo - das ausências de paredes, janelas e portas dividindo ambientes.
Móveis apenas necessários, mas de acordo com a classe econômica dos
personagens. Não gosto muito quando se tem que fechar a cortina e a cena se
desenvolve na boca de cena, num outro ambiente, mas a cenografia é bem
resolvida com um tecido transparente que nos mantém de olho naquela casa, sem
esquecer que a trama principal está ali atrás e o que acontece na frente é
apenas um “à parte" na história. Figurino de Fabio Namatame é bonito e a
luz de Paulo Cesar Medeiros é simpática, dando o tom da comédia e iluminando
apenas as cenas nos aposentos, deixando os demais em meia luz. A música de
Marcelo Alonso Neves é muito bonita, a ponto de ficar na cabeça do publico
quando sai do teatro.
“A Garota do Adeus” é daqueles filmes que vemos à tarde, em dia de
chuva, no período de férias, onde somos só sorrisos e algumas risadas altas.
Estilo “O Amor não Tira Férias”, ou “Meu Primeiro Amor”. Um simples e simpático
espetáculo, de bom gosto e recheado de talentos, para após um dia cansativo de
trabalho.
Um comentário:
Sensacional a crítica. E, ainda, me fez lembrar de um momento especial na minha vida qdo parti para o velho continente!
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