segunda-feira, 18 de março de 2013

CAIXA DE AREIA



Justifico este longo e tenebroso verão da minha ausência nos comentários. O trabalho está árduo neste pós-folia e início de novo ano “letivo”. Chegamos a Salvador para o Lê Pra Mim? na sexta-feira 01 de março, aniversário do meu RJ. Em cartaz na cidade a peça “Caixa de Areia”, do talentoso Jô Bilac, com Taís Araújo no elenco. Fomos assistir. Também tive a oportunidade de ver “Namíbia Não”, com direção de Lázaro Ramos. O casal Lazaro-Tais dominava os principais palcos da cidade! Para fechar com chave de outro, revi, pela sétima vez, o brilhante “A Bofetada” com a Companhia Baiana de Patifaria.

Escrever sobre um espetáculo de teatro, como se fosse um crítico, não é das tarefas mais fáceis. Por isso, aqui neste espaço, digo que são “opiniões de um leigo” - pois não estudei teatro - sobre o que vi no palco. Tenho uma escala mental de 0 a 10 e se o espetáculo assistido se encaixa no eixo “de 5 a 10” costumo fazer comentários favoráveis, mesmo que eu não tenha gostado muito, mas sempre encontrando algo de importante que mereça ser valorizado na montagem. Afinal tem uma equipe imensa trabalhando e não cabe a mim derrubar espetáculo de ninguém. Quando a escala é abaixo de 5, eu reprovo o comentário e ele fica apenas na minha cabeça. Aprendi, faz um certo tempo, que se não é para falar bem, melhor não falar nada.

“Caixa de Areia” estreou nos palcos cariocas no confortável Teatro do SESI, centro do Rio. Este texto, segundo li nas matérias publicadas, faz parte de uma trilogia (“Savana Glacial” e “PopCorn”) deste autor já premiado. Gosto muito do jeito e da inteligência do Jô Bilac. A peça fala sobre  uma critica de teatro que vê a sua vida como se não fosse sua. Como se assistisse de fora os acontecimentos, do presente e do passado, que envolve mortes e fazem com que a crítica de teatro reflita sobre a sua própria vida.

Jô Bilac realmente tem o dom de nos surpreender com suas tramas rebuscadas, contando a história em pedaços para juntar tudo depois. Como se nos desse em doses homeopáticas todas as peças do quebra-cabeça. Confesso que minha capacidade de compreender o espetáculo naquela sexta-feira da viagem estava abaixo da crítica. Prestei atenção, reuni as peças do quebra-cabeça mas, “ou o texto esta muito rebuscado ou eu sou uma perfeita anta”, pensei. Após o espetáculo, na mesa do restaurante, expus minhas hipóteses sobre o assistido. E, junto com os amigos, chegamos as respostas sobre o fio condutor da história contada. Foi ótimo ficar conversando, durante a pizza de peperoni, sobre o espetáculo, arrumando todas as informações que Jô Bilac havia nos dado. Tal qual investigadores num livro de suspense.

No palco, o maravilhoso - repito: maravilhoso - cenário de Flávio Graff, composto de móveis antigos, armários, um conjunto de cadeiras empilhadas e folhagens secas, nos faz passear pelo universo de uma casa antiga, onde histórias aconteceram e plateia de teatro onde a personagem critica de teatro passa sua vida a limpo. O figurino de Patrícia  Muniz é lindo pra caramba e cheio de detalhes de bom gosto. A luz de Adriana Ortiz aproveita o espaços entre os móveis, explora com beleza as cores do cenário e dá o tom de mistério ao espetáculo.  Além de trilha sonora bastante competente de Samantha Rennó.

A direção é do próprio autor que, junto com Sandro Pamponet, sabem do seu desejo de jogar as peças para que a plateia as junte em sua cabeça, tem total domínio das possibilidades de movimentos e utilização do palco e cenário a favor do espetáculo. E soma-se a isto a direção de movimento da competente Viétia Zangrandi


No elenco, todos estão muito bem, se posicionando diante do desafio desta montagem com respeito ao novo autor/diretor, se entregando aos seus papéis com confiança e segurança. Tais Araújo - aliás linda de cabelos curtos a lá Halle Belle - e Luiz Henrique Nogueira encabeçam o elenco com segurança. Cris Larin e Julia Marini chegam a roubar algumas cenas para si tamanha a entrega; e Jaderson Fialho completa o elenco dando vida a outros papéis masculinos.

Sem dúvidas, Caixa de Areia é uma produção de alta qualidade, de alto nível de competência de toda equipe. Depois de passar por algumas cidades brasileiras, é uma opção para quem gosta de desafios de quebra-cabeça e, principalmente, aprecia o talento de Jô Bilac.

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