Quem nunca pirou na batatinha, nunca viajou na maionese ou deu um piti
em local publico que atire a primeira pedra. As vezes estamos somente falando
em voz alta, mas para quem está ao redor é uma gritaria só! Conhecer pessoas
bipolares, seres humanos com TOC, hipocondríacos, moças com TPM no último grau,
é uma constante na vida da gente. “No meu tempo”, como diria minha avó, não
existia esta quantidade de definições para tantas faltas de controle.
Geralmente a mocinha que pirava o cabeção era uma histérica, e o rapazinho, um
desequilibrado. E estávamos conversados! Mas, graças a Freud e às novas
definições da língua portuguesa, os adjetivos e denominações para uma simples
pirada estão à disposição para uso irrestrito!
Com base nesta observação, de como caminha humanidade, estreou no
Teatro do Leblon, na sala Marilia Pera, o divertidíssimo espetáculo ˜Pirou?˜.
Amparados num ótimo texto de Regiana Antonini, o espetáculo é o encontro de
quatro atores, bem centrados, que interpretam papeis completamente pirados
em encontros inusitados nas mais variadas formas de piração: a TPM com o TOC, a
bipolar com o complexo de inferioridade e o eterno perseguido com a
hipocondríaca. É inegável a imensa capacidade de se comunicar com a plateia
que os textos de Regiana Antonini têm. Já assisti a alguns espetáculos desta
autora e sempre me surpreende a sua inteligente fórmula de como fazer a plateia
se identificar com o que está vendo no palco. Aplausos.
Na parte técnica, o cenário Henrique Neves é composto de três bancadas
de camarim ao fundo e três conjuntos de mesa com duas cadeiras, servindo ora de
bar, ora de escritório. Nada além do necessário para contar aquelas histórias.
Figurino e do Bruno Perlatto é simples, mas o necessário para não atrapalhar as
loucas performances dos atores. Bruno criou um “guarda-pó" azul típico de
hospício para os atores receberem a plateia e fazerem a narração / ligação
entre as cenas. Durante os esquetes, as roupas auxiliam na caracterização dos
personagens. Dani Sanches assina a luz desta comedia sabendo que ali o humor, o
brilho, é dos atores.
Michel Bercovith dirige o espetáculo com leveza e coloca certa ordem na
casa, mas é claro que o talento dos atores não os permitem seguirem à risca um
espetáculo amarrado com camisa de força, portanto, Michel opta por deixa-los
mais à solta para que a criatividade possa aflorar, bem como a piração de
cada ator seja bem utilizada a favor do humor.
Quem se diverte para valer, antes mesmo de divertir a plateia, é o elenco. Tatá Lopes e Zé Auro Travassos, engraçadíssimos, estão excelentes
nos papeis que interpretam, levando ao extremo a piração e a loucura ideal para que o espetáculo seja comunicativo. Milena Toscano, nos
brinda com uma divertidíssima "possuidora" de TOC e uma bipolar que
as vezes chega a ser “tripolar” tamanha a quantidade de loucuras que fala.
Bruno Barros completa o elenco apoiando os colegas como o chefe do
departamento, o garçom e o farmacêutico.
Nos dias de hoje basta abrir um jornal, assistir televisão, para se
ficar indignado com tantas loucuras e absurdos cometidos pelo Congresso
Nacional. Somos tomados de um ódio e uma impotência sem tamanho. Sem contar as
desgraças das chuvas recorrentes em nosso Estado e nossa cidade Rio de Janeiro.
Por quanto tampo vamos resistir bravamente às atrocidades que estamos sendo
alvo pelos políticos que nos governam, não sabemos. Mas, graças a espetáculos
divertidos e comunicativos como "Pirou?" temos uma folga neste mar de
sujeira e lama e podemos nos divertir a valer para encarar de frente o universo
que nos rodeia. Quer rir muito? Vá já ao teatro pirar com este espetáculo!
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