segunda-feira, 4 de agosto de 2014

SAMBA FUTEBOL CLUBE


Minha relação com futebol é abaixo de zero. Não entendo, não gosto, não assisto, mas não julgo quem goste. Só não me peçam para tirar a bandeira do Flamengo da parede, porque este amor não se explica. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

Ouvi dizer que o Museu do Futebol, no interior das arquibancadas do Pacaembú, em São Paulo, era imperdível. Fui conferir e, realmente, é incrível. Ali, no museu, está tudo relacionado ao futebol para quem gosta e para que não aprecia muito. As Copas, os times, flâmulas, bolas, jogadas, locutores, a torcida, personalidades, escritores, música, a televisão e fotos da época. Tudo contextualizado. Impossível não amar este museu vivo da história do futebol brasileiro. Recomendo a visita.

Neste “Pós-Copa”, enquanto a vida volta ao normal, os teatros, aos poucos, voltam a receber público, bem como as salas de cinema, os shows nas melhores casas do ramo e as livrarias. A rotina nos traz para a dura realidade das obras inacabadas. Imagina na Copa? De 2018? Voltei aos palcos cariocas para me atualizar das rodinhas de conversas dos amigos artistas. E fui surpreendido pelo musical “Samba Futebol Clube”, em cartaz para uma curta temporada no Teatro Carlos Gomes.

Com roteiro e direção de Gustavo Gasparani, expert em pesquisas sobre comportamentos, textos e música que marcaram a vida carioca do último século, reunir num espetáculo textos e músicas sobre futebol, no período Copa e Pós-Copa, é muito oportuno. Gasparani, que vem de sucessos como “Opereta Carioca”, “Oui Oui a França é Aqui” e “As Mimosas da Praça Tiradentes”, percebeu, durante a pesquisa para a primeira delas, que material não lhe faltava para tantos outros espetáculos e compilou sabiamente os três espetáculos e ainda sobrou material para este! O casamento entre as crônicas dos jornais, por colunistas apaixonados, acrescidas de marchinhas e canções com tema futebol, é perfeito e construído de maneira impecável. Não bastava apenas colocar as músicas e os textos em uma ordem aleatória, o bom (e o que foi feito) era achar uma ligação entre este material, e o resultado apresentado é positivo.

Sabiamente, Gasparani, com tudo na cabeça, reuniu uma equipe competente que embarcou na proposta de atores-cantores-músicos, onde tudo é feito em cena, às vistas do público. Troca de objetos de cenário, interpretação, instrumentação. Os atores, ora são coro, ora músicos, ora protagonistas, sem nenhum deles deixar de ter seu momento de estrelato. Um trabalho impecável de direção.

Na equipe técnica, uma time de primeiro: cenografia de Marcelo Lipiani, com apoio dos vídeos de Thiago Stauffer (onde até os jogos eletrônicos estão ali representados); o figurino de Marcelo Olinto, colorido e explorando as combinações das cores dos times, sem privilegiar nenhum deles; a luz de Paulo Cesar Medeiros, que tira partido deste teatro fantástico; e a direção de movimento de Renato Vieira que auxilia e acrescenta ao diretor, fazendo os atores apresentar um trabalho completo em cena. Aplausos também para Nando Duarte, diretor musical, que construiu a parte das músicas junto com os atores e direção. Trabalho de conjunto excelente.

O elenco, formado por Alan Rocha, Cristiano Gualda, Daniel Carneiro, Gabriel Manita, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Pedro Lima e Rodrigo Lima, dá um show de bola, talento, interpretação e voz no palco. Não há protagonista, todos são explorados e são coadjuvantes do Futebol. Todos são competentes e estão em harmonia. Um trabalho de entrega ao espetáculo, valorizando os textos, a pesquisa e as músicas. É excelente a dedicação de todos para que tenhamos um visual, uma sonoridade e uma fluência. A plateia, e a equipe, certamente ficam atônitos e totalmente ligados no espetáculo. Realmente, são um time. Como no futebol.


Há muito escutava as expressões “cultura do futebol” e “futebol também é cultura”, mas, até conhecer o Museu do Futebol, nunca tinha me ligado nesta junção entre arte e esporte. O Museu me mostrou a necessidade e a importância deste casamento. Porém, foi somente ao assistir ao musical Samba Futebol Clube, que pude compreender, e concordar, com a importância de se mostrar o futebol também como cultura e dar valor à cultura deste esporte. Assim como no Museu do Futebol, este musical é necessário para avaliar a importância do futebol na vida de todos nós, mesmo aqueles que não têm tanta intimidade assim com o a bola nos pés. Samba Futebol Clube é um braço, uma espécie de Museu do Futebol vivo, e ao vivo, voltado para o teatro. Imperdível.

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