quarta-feira, 22 de julho de 2015

UMA REVISTA DE ANO - POLITICAMENTE INCORRETOS

Inúmeras frases sobre o riso estão à disposição esperando para serem citadas. As minhas favoritas são: “Um dia sem sorriso é um dia desperdiçado” (Chaplin); “Os Deuses adoram uma boa piada” (Aristóteles); “O palhaço é um anjo embriagado”, “Ri melhor que ri por último” e “Quem ri por último é retardado” (autores anônimos).

Rir de si mesmo é uma sabedoria. Em todos os espetáculos de humor, quando vejo o artista fazendo piada de si mesmo, esta é a minha gargalhada mais solta. Aprendi com Joaquim Vicente, meu amigo e mestre da arte de atuar, que a piada é o herói em apuros. Faço parte desta turma que ri de si mesmo. Sou míope, a barriga não diminui por nada, faço parte de várias “minorias”... e tantos outros defeitos que uso para fazer da vida a comédia do dia a dia.

Ser “politicamente correto” nos dias de hoje é de doer. Não se pode mais fazer piada com espécie alguma da natureza que já vem a patrulha para levantar os cassetetes e sentar bordoada. Sejamos mais complacentes com as mazelas alheias! Vamos rir disso. O que mais me chamou a atenção recentemente foi uma constatação da escritora e amiga Ângela Dutra de Menezes que, ao chegar no mercado, deparou-se com o “Bolo-Afro-Descendente”, onde antes lia-se “Bolo Nega Maluca”, o clássico das padarias.

Está em cartaz por curtíssimo tempo, no Espaço SESC, cm Copacabana, a comédia “Uma Revista de Ano – Politicamente Incorretos”. Texto de Ana Velloso com supervisão de Tânia Brandão. Aprendi a gostar do gênero “Revista”. Sinto falta deste tipo de espetáculo que nos faz rir justamente de coisas e causos acontecidos em nosso país ao longo de um ano. E olha que o Brasil é o país da piada pronta, o que não falta é assunto para as Revistas. Assim como o Fantástico de domingo, a peça “Politicamente Incorretos” resume com sabedoria “os melhores piores fatos” de meados de 2014/meados de 2015. A começar pelos fiascos da abertura da Copa, o fracasso do jogo, a mentirada dos debates para presidente, as derrapadas de um grande empresário brasileiro e outras pitadinhas de humor apimentado jogadas aqui e ali durante as apresentações. Sensacional transformar a história do grande empresário falido em uma paródia com X-Man. Com um texto incrivelmente bom, o tema “atores em busca de um texto para montagem de uma peça”, que faz a costura entre as cenas, merecia um tratamento menos comum.

A direção de Sérgio Módena é sempre criativa e interessante. Gostei muito como faz a ligação entre o gari da Marques de Sapucaí e o programa de TV “De Frente com o Gari”. Além disso, a disposição de cada “cantinho” dos atores no palco, auxiliam as rápidas trocas de roupas e cenários. Gosto da forma como respeita o teatro de arena e faz com que os atores “girem” para que todo o público possa ver o espetáculo sem perder nada.

É um acerto ainda a quantidade de adereços. Como estamos vivendo um momento de apertar os cintos, economizar objetos e usá-los com sabedoria é uma ótima proposta. Por falar neles, adereços de Antônio Medeiros e Tatiana Rodrigues, e também Derô Martin. Antônio e Tatiana também assinam os ótimos figurinos, com colaboração de adereços de Hideraldo Peniche e Walter Rocha. A ambientação cênica é do diretor, Gustavo Wabner e Bia Gondomar. A luz de Tiago e Fernanda Mantovani está sempre alerta para focos necessários e para manter o humor aceso. A direção musical de Wladimir Pinheiro é criativa e consegue fazer de um teclado, uma orquestra. Aliás, as versões das músicas estão divertidíssimas, com destaque para “Deixa a Fifa me lesar. Fifa, lesa eu.” A coreografia de Édio Nunes ajuda com elegância e humor a contar as histórias musicadas através de passos bem marcados.

O elenco está ótimo. Todos compõem muito bem seus personagens. Destaque para o hilário Gari de Édio Nunes; a candidata verde de Ana Velloso (que canta lindamente), a velhinha da plateia e a composição ótima de uma candidata de um certo partido vermelho, de Cristiana Pompeu; o Magneto de Cristiano Gualda; a perfeita composição do carnavalesco famoso de Hugo Kerth; e, não menos importante, o cego ditador de Wladmir Pinheiro. Sabemos quando o elenco está se divertindo em cena e isto nos contagia.



“Politicamente Incorretos” é um recorte muito bem humorado do que vivemos neste último ano. Com texto, atores e direção bastante dedicados, impossível não dar risadas e gargalhadas com gosto. Até porque estamos rindo de nós mesmos, das nossas “melhores piores desgraças”. É como diz o Alcorão, “Abençoado aquele que faz com que seus companheiros riam”. Obrigado por me fazerem rir com vontade. Aplausos de pé!

Um comentário:

joaquim vicente disse...

Adorei ser citado, kkk, sorte e sucesso porque escrever bem você já escreve, beijão