domingo, 13 de março de 2016

SUCESSO

Desde pequeno percebo a cobrança da sociedade e de familiares para que seus produtos-humanos (filhos, primos, sobrinhos) sejam um sucesso. Ninguém perguntou a eles se era isto que queriam, ou se para eles bastava ser um comum. E, melhor, onde é que está escrito que “ser comum” não é ser sucesso? Hoje em dia sustentar uma casa e viver confortavelmente ainda não é sinônimo de sucesso. É preciso ser um destaque no meio (profissional ou social). Pois temos que mudar esta história. Ser feliz com o pouco é sinônimo de sucesso, sim senhor, e precisamos aprender a valorizar isto.

Está em cartaz até o fim de março a comédia “Sucesso”, texto e direção de Leandro  Muniz. A peça conta a história de um simples mortal que busca, a qualquer custo, o tão esperado sucesso. Coitado. Se ferra de verde e amarelo várias vezes até chegar lá. Não só profissionalmente como amorosamente. Tudo em busca do que os outros esperam que ele seja: alguém de sucesso. Mas quando chega...  E agora?

A direção do Leandro para este espetáculo nos faz presenciar a gravação de uma temporada de um seriado, ou um filme, misturado com novela de rádio. Temos ali os contra-regras mudando tudo a cada nova cena – cenário de Paulo Denizot (que também assina a luz) e Janaina Wendling – e o elenco trocando figurino (Bruno Perlato e Tuca) e objetos de cena a cada instante. Tudo isto amparado por uma sonoplastia ao vivo somada a trilha gravada – direção musical de Fabiano Krieger. Para quem não sabe como é, e para os que já estão curtidos na pele, viver a experiência intensa de um estúdio de gravação é o que se pode presenciar neste espetáculo. Leandro não economiza criatividade e tudo, por mais simples que seja – como deixar uma boneca na caixa original – é aproveitado para fazer pensar e sorrir.

A gargalhada da peça vem com o as atuações ótimas do trio principal: Anderson Cunha, Pedroca Monteiro e Juliana Guimarães. Impossível dizer quem está mais a vontade e envolvido no espetáculo. Todos os três dominam com totalidade seus personagens e os comportamentos. Anderson, sempre ótimo, dá vida ao personagem principal. Pedroca é “o cara de sucesso que todos gostariam de ser”. Juliana, com a capacidade de mudar completamente de um personagem para o outro, enriquece o espetáculo. Ainda no elenco, Diego de Abreu, Fabiano Lacombe,  Julian Gorman e Rafael Pissurno, não menos importantes, são os responsáveis por sustentar toda a condução do espetáculo, se desdobrando, ora em coro, ora em contra-regras, ora em personagens. Todos muito bem.

Assistir a este Sucesso é ter a certeza de que a busca constante em “ser alguém”  nos afasta do "ser de alguém”. Nem que seja de nós mesmos. O equilíbrio entre o sucesso que esperam de nós e o sucesso que conseguimos alcançar depende do nosso grito de basta. Nós, e apenas nós, é que temos a chave para o nosso sucesso, seja ele abrir a tampa de um vidro de palmito, se manter empregado ou se manter na mídia. Eu prefiro o sucesso espontâneo, vindo do reconhecimento do trabalho com esforço, sem a necessidade de se vender.

Conheço Leandro faz tempo. Assisti a todos os seus espetáculos encenados. Um deles, Relações, recentemente foi apresentado num teatro em Nova York, off Broadway. Quantos gostariam de ver seu texto encenado lá? Leandro além de tudo dirigiu a montagem americana.  Isto sim é sucesso. Sucesso é seu melhor texto. Amadurecido. Cruel e real.


Aplausos para este espetáculo, criticando a importância do sucesso, sem, em nenhum momento, desdenhar dele. Que venha mais um Sucesso na carreira de todos os envolvidos neste espetáculo! Vida longa ao Sucesso!

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