quarta-feira, 16 de novembro de 2016

DEPOIS DA TERCEIRA ONDA

“Que tempos estes!” A frase pode ser lida e escrita por várias pessoas de classes e opções políticas diferentes. Época em que o medo dos rumos políticos no Brasil e no mundo, a insegurança econômica, o abismo entre o que o povo necessita versus o que os governos oferecem, está aí pra quem quiser criticar, sugerir, lamentar.

Longe da minha opinião política, temos que observar a mudança no eleitorado. As eleições para prefeito nas duas maiores cidades brasileiras indicaram a vitória do conservadorismo, mas com rostos novos. Um empresário em SP e um Religioso no Rio são a novidade num cenário em que, seus partidos, estão ao lado do conservadorismo. Interessante notar que a maioria dos votos nos candidatos é justamente da população contrária às políticas sociais - e vários beneficiários delas - que foram mal executadas nos últimos anos do governo passado. Temos receio de que, com estas novas caras, um totalitarismo, uma ditadura social, venha com força dominar, e domar, nosso país e, quiçá, nosso mundo, visto que nos EUA a coisa é bem parecida.

Oportunamente, a CIA Abrupta, sob a batuta do diretor Jarbas Albuquerque, nos traz para o teatro a peça “Depois da terceira onda”,  inspirado no documentário A História da Terceira Onda (de Dennis Gansel), onde se discute a microditadura social através de um experimento, em sala de aula, entre professor e alunos. Jarbas assina a dramaturgia desta peça em questão. Gosto da forma leve e direta em que o texto é adaptado para o teatro e para a realidade brasileira, podendo ser compreendido por todas as classes sociais que assistem ao espetáculo.

Jarbas tem inteligência e sabe o que quer dizer com a peça, cria cenas interessantes entre os alunos e o professor, envolve a plateia – que chega a rir de nervoso e até por identificação com o momento atual – mostrando que a realidade está mais do que batendo à nossa porta. A mudança para o conservadorismo está na nossa cara, no nosso momento, no agora. Orai e vigiai, diriam os evangélicos, pois, aprendamos com eles, e vigiemos, para que não calem as vozes da oposição, não se impeça de dizer que se está contra uma situação, sem ser enjaulado ou assassinado.

Destaque para a cena em que a atriz repete, à exaustão, e de várias formas diferentes a expressão “de novo”. É isso. Tudo de novo, de novo.

No palco, os atores Adriana Perin, Daniel Bouzas, Henrique Guimaraes, Ignácio Adunate, Lu Lopes, Maira Kestenberg e Samuel Vieira vivem a experiência de transformar uma classe num micro universo fascista e totalitário. O final, inusitado mas não surpreendente (e isto tem a ver com a humanidade e não com a montagem), mostra que, no fundo, no fundo, somos todos manipuláveis, mesmo no momento da brincadeira. Atores em ótimo conjunto, sendo verdadeiros e integrados à proposta do diretor.

Cenário de Gregório Rosenbusch e Mariana Meneguetti, figurino de Henrique Gimarães e a luz de Elisa Tandeta contribuem para a evolução da história, deixando a palavra, a direção e a atuação mergulharem neste mar esperando a chegada da terceira onda, a mais forte, que encerra um ciclo de ondas, arrasando o todo, ou iniciando o novo.


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O momento politico mundial e nacional, pedem que o teatro também fale dele. E a peça “Depois da Terceira Onda” está no momento certo, no local certo (Centro Cultural Justiça Federal) e merece ser vista por quem ama a arte cênica. Vejam, debatam, discutam política, não deixem calar suas vozes. Vida longa ao espetáculo.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá Marcelo, eu sou uma das atrizes da peça "Depois da Terceira Onda" e notei agora ao ler que meu nome saiu errado: em vez que "Maíra", saiu "Maria". Se puder corrigir, te agradeço.