É, farrétempo que cá não venho... não tenho muitas explicações. A vida é feita de ciclos. Também farrétempo que não escrevo mais meus contos de humor, que me renderam 4 livros de contos... tenho sentido saudade de mim escritor... quem sabe ele volta! Por hora, voltei aqui para registrar um musical que nos lembra do Brasil que amamos. Aquele que ficou ali atrás, antes das redes sociais, da politica agressiva, das brigas familiares, da vida binária que nos colocaram: eles e nós. Djavan completou 75 anos em 2024. Todas as comemorações pela data serão poucas.
Está em cartaz no Teatro Multiplan, até 20 de julho, o musical em homenagem e registro da obra do gigante artista: DJAVAN, O MUSICAL: VIDAS PRA CONTAR.
Temos ali o que interessa sobre o artista: amores, filhos, família, amigos e canções. E, obviamente, os colegas de profissão que cantaram e estiveram presentes – e ainda estão! – na trajetória do cantor. De Gal a Bethânia, de Steave Wonder a Caetano, de João Araújo a Chico Buarque. Sem as surras de datas que cansam a plateia (ufa!), o espetáculo apenas cita as mais importantes e conta as vidas que o público quer assistir.
A dramaturgia está em cada cena: na abertura, com as bandeirinhas virando varal, na história do irmão preocupado com o artista “que não vai dar em nada”, a mãe que traz a música desde a infância, a criança interior que não acredita que um Roberto Carlos possa cantar sua música, a importância das raízes e referências. Tudo está sob medida. Mérito de Patrícia Andrade e Rodrigo França.
No palco, temos o cenário de André Cortez, trazendo elementos que auxiliam a direção: portas-janelas que se abrem dando movimento ao espetáculo e os bancos-bandeirinhas de festa junina. A luz, de Daniela Sanches, casa perfeitamente com o cenário trazendo vida, cor e andamento nas músicas. O figurino de Karen Brusttolin é aquela riqueza e beleza de sempre.
Destaque para a impecável direção musical de Fernando Nunes e João Viana (filho de Djavan), que apresentam as composições do cantor no exato tom e andamento que a plateia ama cantar! Jules Vandystadt assina os arranjos e a ótima harmonia vocal do elenco. Os músicos são Ale Matias, Diego Cordeiro, Multi, Pedro Silveira e Pitito. Perfeitos!
Cantei 99% das músicas. Sina, Samurai, Azul, Fato Consumado, Açaí, Oceano, Lilás, Flor de Lis... “Capim do vale, vara de goiabeira, na beira do rio, paro para me benzer...” (Capim) é uma das minhas favoritas e deixaram pro segundo ato e eu já tava em cólicas!!
O elenco competente e afinado é composto por Aline Deluna (Maria Bethânia), Alexandre Mitre – Djacyr (irmão Djavan), Eline Porto – Aparecida (1ª esposa de Djavan, super carismática!), Ester Freitas – Djanira (irmã Djavan e que canta The Shadow Of Your Smile que é uma beleza!!!), Erika Affonso (Alcione), Gab Lara (Chico Buarque e João Araújo), Walerie Gondim (Gal Costa, levando a plateia ao delírio pela semelhança, e Rafaella - esposa de Djavan), Tom Karabachian (Caetano Veloso).
Mas é preciso destacar:
Marcela Rodrigues, como Dona Virgínia (mãe Djavan), que traz uma emoção além da conta. É uma sensação de mãe de todos, mãe do ator que faz o Djavan, mãe do elenco em cena, a sua voz, sua presença nos faz querer abraçá-la ao término de cada número em que canta.
Milton Filho – Elegbara – é aquele ator que nos faz entrar em cena com ele. Milton é sempre a nossa voz no palco. Seu personagem conduz, induz, acalenta, orienta e apoia Djavan. Canta, dança e representa!
João Fonseca é o maestro-diretor deste musical. São incontáveis os espetáculos que já assisti dirigidos por ele e sua forma de encaminhar um musical, usando de humor, emoção, foco e organização do todo ainda me impressionam muito. João de Tim Maia, de Cassia Eller, de Cazuza, escreve também sua história dentro das histórias dos artistas que ele faz homenagem. João sabe a hora de rir e deixar as lagrimas descerem. A cena da partida da mãe é uma beleza cênica e emotiva. As três cantoras de Jazz, o humor dos telefonemas, as ordens das músicas, o vazio do palco que agiganta o artista... João está afinado e cada vez mais competente. A coreografia e direção de movimento de Marcia Rubin é um casamento mágico com a direção. Ótimo!
A produção da Turbilhão de Ideias, do Gustavo Nunes, é a responsável por trazer o melhor da MPB em musicais biográficos. Gustavo está escrevendo na história do teatro um conceito de espetáculo além do entretenimento. É soma de música, cultura, qualidade, emoção e memória. É a reunião de “vermelhos e azuis”, de famílias brigadas, de lados que não se falam, mas cantam juntos a música. É um registro do Brasil que amamos e nascemos nele, século passado.
Sai renovado, lavado (lágrimas em litros) e muito feliz! Aplausos de pé são poucos. Aplausos até a mão ficar vermelha. Viva Djavan, viva o teatro!!
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