sábado, 10 de janeiro de 2009

AS CENTENÁRIAS

Foi com muito prazer que assisti, ontem, a peça As Centenárias, em cartaz até fim de fevereiro, no Teatro Poeira, aqui no Rio de Janeiro. A peça conta a história de 2 carpideiras (aquelas que sao pagas para velar e chorar os defuntos em enterros). Nao vou contar mais para nao estragar surpresas do texto, mas as referencias nordestinas, os canticos (ou seriam cantigas?), e o linguajar da peça dá o tom do espetáculo. Sem falar que os diálogos sao bem engraçados e ágeis. Lindo texto. Uma linda historia de amizade entre as duas carpideiras. Assim como é na vida real a historia da amizade de Marieta e Andréa.

E por falar nas donas do teatro, sao as donas da peça. Estao brilhantes. Todas as duas. Ouso a dizer que Andréa, as vezes rouba a cena de Marieta, que, generosa, entrega de bandeja para que a amiga e comadre leve para si todos os olhos da platéia. Muita generosidade para uma atriz cujo talento é inegável. Ver a amiga, comadre, socia brilhar, é um prazer para Marieta. A gente vê isso. Tal qual as amigas carpideiras, a mais experiente passando o bastão e a função para a mais nova. Belissimo trabalho de corpo, gestual e voz das atrizes. Lindo mesmo. Ah, nao posso me esquecer da brilhante e marcante participação do Sávio Moll, um belissimo trabalho de corpo e atuação em todos os momentos que está no palco. Parabéns.

O cenário, de Fernando Melo da Cota e Rostand Albuquerque, que ganhou premios, retrata muito bem a paisagem nordestina, suas cores, seus personagens, suas vidas, tudo em formato de bonecos. Bonecos, de Miguel Vellinho, estes que fazem parte das cenas. Ah, mas nao é so isso nao!! Tudo é um grande picadeiro de circo! Até nós, platéia, somos a platéia do circo. Circo da vida, palhaçada da vida! As carpideiras sao palhaças! Sao?? Como diz o programa, "Alegria do circo é ver o palhaço pegar fogo"!! Claro q é ao contrário, mas... claro q é verdade! Tirando os bonecos do fundo, a arena é um circo disfarçado. Muito bonito. (Foto abaixo)

Gosto muito do figurino, de Samuel Abrantes, principalmente o das carpideiras. Bem feito, e, melhor, feito com carinho, onde estao os elementos necessários para acalentar e espantar a morte. As demais roupas da peça (e dos personagens) combinam com tudo, principalmente com o cenario.

A trilha sonora do Tato Taborda é uma constante nas peças do Aderbal. Eu gosto, tem barulho, tem instrumentos, tem vida! Nao sao apenas sons de computador! Gosto!! E gosto ainda mais de toda a iluminação do espetáculo, leia-se Maneco Quinderé, que nos limita a pensar cada cena como unica, e nos expande ao encarar as cores de cada cena como um todo. Muito bom, como sempre.

A costura geral do diretor Aderbal Freire-filho, como sempre, é muito boa. Tudo se justifica, tudo se aplica, se liga, se encontra, e nem precisamos ficar esperando respostas em palavras, elas estao "ditas"em atuações. Gosto do tempo de troca de cenários. Gosto das vozes e entonações das atrizes, suas posições e comportamentos no palco.

Mas, tem sempre um "mas", uma unica coisinha me tirou a alegria de 100% da peça. O final! Quando as carpideiras enganam a morte de uma maneira tão boba, mas tão boba, que me irritou pela falta de criatividade, que para uns, ou para os leitores, esta falta de criatividade pode ser toda a diferença da peça e eu, definitivamente, não entendi patavinas do espetáculo!!

Confesso que fiquei de boca aberta nas cenas da Andrea Beltrão. Mas, no todo, apesar da peça ser espetacular e imperdivel, eu ja vi esse filme antes e não me emocionei...

Vá ver e conclua você mesmo!
Até breve!

Um comentário:

Renato Corrêa disse...

Assisti o espetáculo e concordo. Ótima crítica!