quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

TOM E VINÍCIUS

Sábado fui na estréia carioca do musical Tom e Vinícius, no Teatro João Caetano, praça Tiradentes, centro do Rio. Depois de um tempo fechado, o teatro voltou repaginado, a lá Dilma, aquela, com novos carpetes e novas forrações de poltronas. O ar condicionado no saguão tava à toda, mas na platéia não. Do balcão nobre, onde estava, o suor escorria. Mas, graças a Deus, o teatro está em muito boas mãos e a vontade de fazer aquele espaço ser melhor aproveitado está dando certo. Pontos para o novo diretor, o Daniel Dias da Silva.

A peça reúne todos os trechos conhecidos, já explorados, e exaustivamente falados, da vida, e do encontro, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Pra que não tem acesso aos milhares de sites, entrevistas, matérias, enfim, ao material disponivel no mundo todo sobre esses dois ícones da música brasileira, vai achar o texto de Daniela Pereira de Carvalho, uma beleza. Eu achei pobre. Pobre de pesquisa, pois faz uso de piadas mais do que velhas, como a cena da comparação do whisky ao cachorro engarrafado, e da celebre frase "as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental" e aos poeminhas e sonetos mais que batidos, como o da Separação e da Fidelidade. Pra quem não conhece a vida dos músicos, tudo bem, vai gostar, mas pra quem conhece, esse texto não traz novidade alguma.

As músicas escolhidas estão muito bem executadas ao vivo pelos músicos, mas a direção musical do Josimar Carneiro está bastante baseada no disco que Tom homenageia Vinicius, gravado em Paris em 1994. Tudo bem que ninguém é obrigado a saber disso, mas eu sei. Conheço o disco e quase queimei a vitrola de tanto escutar, e, por isso, reconheci os arranjos. São lindos, claro, mas... pra peça ficou um ar de que os arranjos foram copiados.

Os protagonistas, Marcelo Serrado e Telmo Fernandes, estão à vontade em seus papéis. Porém, o Marcelo tenta imitar o Tom e fica caricato. Fica feio. Aquele não é Tom Jobim. Então, o que fazer? Reduzir a imitação e deixar a emoção fluir. Não precisa falar arrastado como o Tom fazia em seus shows. Seja natural... Já o Vinícius do Telmo é ótimo!! Um show de interpretação. É isso que quero diver, visse? Seja você mesmo em cena, mas empreste-se ao personagem, não queira ser o persongem. Telmo arrebenta! Excelente. A Guilhermina Guinle, muito criticada na temporada de São Paulo da peça, merece todos os créditos. Está bem em todos os papéis que interpreta, e canta bem quando exigida. Só precisa tomar cuidado no Soneto de Separação com o fim das frases, pois está falando muito baixo e a gente perde as últimas sílabas das palavras.

No grande elenco de cantores, Lilian Waleska se destaca anos luz na frente dos companheiros e companheiras de voz. Cada vez que a "cobra fuma" no palco, a direção bota Lilia pra levantar a peça e ela consegue. É a única ovacionada pelo público ao fim de suas interpretações.

O cenário é do Ronald Teixeira. Eu particularmente acho pobre, rápido de ser construido e embalado para viagem. Não soma ao espetáculo. Porém justiça seja feita: uma projeção do morro Dois Imrãos, visto da praia de Ipanema com as nuvens passando fica lindo no painél do fundo. O figurino está correto. Como não recebemos programa, não sei quem assina. Assim como a luz, que também está correta, mas não está bela.

E por fim a direção do Daniel Herz, que brilhantemente dirige a Compania de Teatro dos Atores de Laura, dessa vez tem em mãos um espetáculo arrastado, cansativo, chato e sonolento. Sem ter muito pra onde correr, Daniel dá ênfase aos números musicais e deixa de lado as emoções tanto de Tom, quanto de Vinícius. Mas nas únicas horas em que elas se fazem presentes no texto, como a cena de Tom relutando a ir para os EUA, e em Vinicius se separando da mulher em Paris, a direção está linda e funcionando prefeitamente.

Parece-me que o espetáculo fora concebido e montado à toque de caixa para ser logo apresentado ao público, tipo: "Ah, o título 'Tom e Vinícius' já diz tudo, o que a gente apresentar, o povo vai gostar". Claro que tem todo um belo trabalho de ensaios, de dedicação dos atores, direção, músicos, produção cantores, mas o resultado deixa muito a desejar. Tom e Vinícius mereciam, cada um, um musical às suaa alturaa, e não esta colcha de retalhos com tecidos mais do que batidos e músicas para turista ver...

Como sempre digo: vá ver e tire suas proprias conclusões.
Até breve!
Abraços.

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