domingo, 3 de maio de 2009

A HISTORIA DE NÓS 2




Está em cartaz no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, a peça do título, de autoria de Lícia Manzo. A logomarca do espetáculo faz um brincadeira com a palavra HistóRia, onde sugere que se ria daquela relação entre as duas pessoas, personagens, da peça. Ou melhor, da Comédia Romântica, como bem diz o subtítulo. E é isso mesmo. Uma comédia, onde o povo ri do óbvio e do não tão óbivio assim, onde todas as historias do inicio, meio e fim de um relacionamento podem ser bem exploradas. O que eu mais gostei do texto é que, apesar daquilo tudo ja ter sido dito, dessa vez é dito com propriedade, segurança e com competencia, pois se diz de uma forma honesta e clara. Sem pieguices e sem bla bla blá. O recado é dado rápido e rasteiro. A peça dura só 1 hora e 5 minutos, mas... pra que mais? Gostei muito do texto.

Vou falar mais ainda do texto pq é o que move o teatro. Sao discutidas as relações entre todos os casais, e o da peça nem de longe é um casal modelo. Tem todos os tipos de brigas triviais de um relacionamento. Praticamente um prato cheio para todos os terapeutas mandarem seus pacientes, clientes, ao teatro correndo para verem a cagada que fazem (eu fiz) com suas relações interpessoais de conho amoroso (hahaha). Uma parte ótima da peça é quando o marido questiona a esposa no "ajudar" a cuidar do filho. Ela sábiamente diz que nao existe "ajudar", pois só se ajuda alguem a fazer aquilo que nao é tarefa sua, e criar um filho é tarefa dos pais em igualdade de peso. Ponto para Freud!

O cenário da Clivia Cohen é bacana. Tudo em tons de madeira, aproveitou o espaço do fundo do palco para criar portas de armários onde os atores guardam e retiram o que precisam, somando a duas caixas de guardar coisas que viram a cama da peça. Ótimo. Funcional. Mas nada criativo. Dá o recado.

O figurino do Cao Albuquerque é perfeito. A mesma roupa o tempo todo aos atores que servem a vários propositos. Combinam com os adereços e compoem outras roupas se combinando na harmonia de cores.

A luz de Maneco Quinderá é como sempre linda. Ilumina e nao concorre com os atores.

A trilha sonora do Rodrigo Penna é como sempre bem escolhida e divertida.

As projeções de Miguel Pachá sao bem feitas e acrescentam ao espetaculo as cenas que nao se passam no palco, como a do Supermercado e a do fim da peça. Bem produzido.

Os atores estao otimos e seguros. De inicio achei a Alexandra Richter melhor que Marcelo Valle, ela se entregando mais e ele curtindo menos. Mas ao longo da peça, fica claro que ele é o que realmente se entrega com paixão e emoção e ela, mais técnica, pode até roubar a cena em alguns momentos, mas a emoção do Marcelo Valle fala mais alto. Ele compõe tão bem o marido, bofe, hétero, machão, que me fez ter asco do personagem, pois é assim mesmo que os meninos têm se comportado ultimamente. Por isso gostei imenso (como dizem os portugas). Ela, chatissima (a personagem) compoe tão bem sua esposa-mãe que nos faz ter raiva do bebê por ter se metido na vida de um casal tão bacana. Ao fim da peça, me surpreendeu ver Marcelo Valle chorar de verdade em cena, o que emocionou a todos nós da platéia. Isso é que é entrega! A ponto da colega Alexandra olhar para ele com aquela cara cúmplice de que "tá tudo bem. tá tudo bem". Otimos trabalhos dos dois. Que entrega, que técnica.

Mas, sem sombra de dúvida o prêmio Shell da peça vai para a direção do Ernesto Píccolo, que consegue nos fazer esquecer que estamos num teatro de arena com mísero palco de 5 x 5 metros, nos remete a vários planos e cenários, nos insere na trama, é agil, emotivo, inventivo e criativo em marcas que poderiam ser óbvias. Os atores estao com suas falas bem ditas, as pausas e respirações estao corretas, claras, sem pressa. Tudo dirigido com o carinho que esta história deles dois merece ser mostrada e contada.

Uma observação irrelevante. É uma peça para um publico jovem, de 20 a 50 anos se identificar direto. Já os mais velhos, vao relebrar seus tempos daquelas histórias vividas iguais a do casal.

Nao perca este espetáculo. Principalmente se vc está iniciando um namoro, se está no meio dele ou se simplesmente acabou de dar, ou tomar um pé na bunda. Voce vai mudar seus conceitos e fazer uma terapia de grupo e ainda por cima se divertindo.

Veja e comente.
Abraços.

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