
A alegria que um travesti, transexual, transformista apresenta quando está montado é totalmente diferente de sua luta diária por direitos iguais. Partindo do princípio de que somos todos iguais perante a lei, que se faça cumprir a constituição e que todos os direitos LGBTs sejam reconhecidos.
BR TRANS está em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea, atá domingo dia 29/10/2017. Resultado de pesquisa, via edital do Ministério da Cultura, o espetáculo apresenta passagens reais sobre violência, exclusão, coletados no Ceará e no Rio Grande do Sul.
A dramaturgia, de Silvero Pereira é composta de histórias, como da transexual que é demitida, por ser o que é, e tem que mergulhar na prostituição para sobreviver; daquela que tem que ser chamada pelo seu nome de batismo em casa, pois a família não permite seu nome desejado; da que sustenta um garoto mais jovem; a noite de estreia de uma novata nos palcos da vida; e outras que estão na peça. A costura entre as cenas do texto é a narração do ator sobe como aconteceram as experiências durante o processo de pesquisa. Sábia costura. Um texto bastante realista que traz à tona histórias tristes, tratadas com respeito. Diferentemente de programas de tv sensacionalistas, que tratam desgraça com humor negro. Quem conhece Vanessão, sabe o que estou dizendo. Cata no youtube pra você ver.
A cenografia, assinada por Silvero Pereira e Marcos Kung, facilita a movimentação cênica. No palco, estão apenas elementos necessários para ilustrar a história, lugar onde todos os personagens habitam. Ali tem camarim, mesa, banco, biombo, tecidos, presentes. O figurino excelente, assinado também por Silvero, tem uma cueca na cor da pele, que nos mostra o artista nu diante da plateia, sem estar pelado. As roupas dos números musicais são ótimas e também a roupa em que Silvero “se veste de homem”. A luz é realmente inovadora. Assinada por Lucca Simas, refletores em pedestal no palco, abajur e ribalta são acendidos e apagados por Silvero, e transformam a cena a cada momento, fugindo do tradicional. Inteligente e criativo. Destaque também para a projeção de Ivan Ribeiro. Rodrigo Apolinário é o músico pianista que executa otimamente não só a trilha sonora criada por ele próprio, mas a canções conhecidas que os personagens interpretam.

Dirigindo o espetáculo, a gaúcha Jezebel De Carli. Uma das melhores direções deste ano no Rio de Janeiro, sem dúvida. Com temas fortes e reais sendo mostrado, Jezebel não foge da tarefa. Mostra com respeito as tragédias e alivia com pitadas de comédia. Teatro da melhor qualidade. Destaco a cena do “abacaxi”, quando Silvero descasca a fruta ao contar a história e usa o abacaxi como marionete, e a cena em que se utiliza do case de guardar refletores como quadro negro, são imbatíveis. Sensacional a quantidade de alternativas cênicas propostas por Jezebel ao espetáculo. Seu casamento com Silvero é impecável. A dedicação e entrega mútua estão ali, na nossa frente, durante todo o espetáculo. Prêmio já para ela!
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