segunda-feira, 4 de novembro de 2019

SUBNORMAL


     Tenho 23 graus de miopia no olho esquerdo e 16 graus no direito. Operei os dois olhos já, de catarata. Enxergo sem óculos, lá longe, pilho em pulga, perfeitamente desde então. A lente é interna, dentro do olho. Para ler, uso óculos que me dão conforto ao astigmatismo que resta. Tudo ficou mais nítido, claro, colorido, depois da operação. Antes, a noite era preta e branca. Adeus lentes de contato, que deixavam os olhos vermelhos. Adeus fundo de garrafas, companheiro desde infância. Por conta desta minha deficiência visual, fui dispensado da marinha no alistamento militar! Ufa! Graças à miopia cavalar, escrevi e lancei o livro infantil “Cuidado com os óculos!”, mostrando às crianças que o objeto é um aliado e não um estorvo.

     Está em cartaz no teatro Cândido Mendes a comédia dramática SubNormal – uma história de baixa visão. O texto de Cleber Tolini conta a sua história real de vida. O que causou a sua deficiência, como encara a vida, as situações cômicas e angustiantes de alguém que, assim como eu, não enxerga 100%. Cleber, por ter vivido as situações, sabe bem como contá-las e a dramaturgia nos faz ficar ligados no texto até o fim. A peça prende, a gente torce, a vida prega sustos, a gente se adapta.

     O pequeno palco do teatro recebe uma cenografia branca para facilitar a movimentação do ator: um grande olho no piso, dois cubos brancos que se dividem em mais dois. O figurino, também branco, ajuda no conceito, na interpretação e nos faz compreender o motivo da cor. A luz também é parceira e faz pequenos recortes com focos nos momentos importantes. Uma trilha sonora caprichada que auxilia e conta a história verídica. Não tenho os nomes dos criadores, mas sintam-se aplaudidos.

     A direção é de Djalma Lima, que sabe como conduzir Cleber Tolini pelo espaço cênico, cria suspense na hora certa, suspende a ansiedade da plateia, depois volta ao assunto, mas sem deixar a bola cair. Ótima a ideia de incluir a plateia na história com os envelopes brancos. É uma constante partida de frescobol onde Cleber Tolini joga consigo mesmo, levantando e rebatendo as bolas-textos com calma, segurança, competência, talento e, principalmente, muita verdade. Importantíssima a citação da ong Bengala Verde, que nos ensina e explica a identificação de uma pessoa com baixa visão. (https://www.bengalaverde.org.br/)

     SubNormal é identificação imediata para todos que têm deficiência visual. Além disso, é um espetáculo divertido e bonito. Como o ator está no palco, vivo, contando sua história, sabemos que, graças a Deus, tudo acaba bem. Em vários momentos me identifiquei com a história. Não enxergar tudo é algo que já me acostumei, e não sofro por isto. Pelo contrário! Os amigos que me viam colando o celular no olho pra ler, riam comigo da situação. Criamos laços por isto. Vá assistir a SubNormal. É um ótimo espetáculo, uma ótima atuação de Cleber Tolini e um excelente veículo de informação sobre a visão. Aplausos de pé.

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