quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

AS CONCHAMBRANÇAS DE QUADERNA

Sempre costumo contar uma historinha da minha vida que coincide com a história da peça que assito no teatro. E aí, traçado o paralelo e identificadas as coincidências, comento o que gostei e o que penso possa ser melhorado para que o espetáculo fique impecável (a meu ver, claro).

Segundo informações do programa da peça "As conchambranças de Quaderna", "conchambranças" é uma corruptela (tá bom, vá ao dicionário) de conchamblança, que significa conchavo, ajuste, combinação. O texto de Ariano Suassuna me lembrou muito os conchavos que Moliére e Feydeau escreveram em seus espetáculos de teatro, onde as combinações dão tão certo que os espectadores torcem para mocinhos e bandidos ao mesmo tempo para que, como diria Shakespeare, "tudo acabar bem, quando terminar bem".

Duas histórias, muito bem contadas pelo protagonista, começam com a armação do furdunço. Parecem confusas de início, mas é normal, pois até a gente entender o que significa "aquela gente pronta pra guerra", numa história que nos (platéia) está sendo participada naquele momento, demora um pouco. Sabe quando aquele seu amigo (vizinhos, conhados, parentes) chegam até a gente com uma história pronta pra gente dar a nossa opinião? Até a gente entender todos os detalhes demora um tempo. É essa sensação. Mas, depois que estamos apresentados aos personagens, tudo fica uma delicia só. Não vou contar nada sobre as histórias, voces vão ter que ver.

Começo a série de elogios pelo Leonardo Brício. Rapaz... a última vez que o vi no palco, ele era filho do Fagundes, numa peça com Cassia Kiss. Brício está muito maduro como ator e interpreta Quaderna com segurança, graça, sotaques e trejeitos tipicos de um nordestino. Quase um clown. Mas sem exageros! Totalmente seguro e confiante no que faz. Arrisco a dizer que ele merece ser indicado a um Prêmio Shell pelo seu trabalho.

Ainda pelos atores, Débora Lamm ("Cilada") e Dani Barros ("Inventário") dão um show à parte. São as responsáveis pelos momentos mais cômicos do espetáculo. É um prazer ver as duas atrizes duelando no palco, cada uma querendo que sua personagem ganhe mais vida que a outra e, no final, quem é beneficiado é o espectador. Eu ria só de ficar olhando as duas!

Completam o elenco Zé Wendel, Iano Salomão, Diogo Camargos e Junior Dantas , que dão o suporte que o espetáculo precisa. Já Ricardo Souzedo e Viviane Câmara também têm méritos nas suas atuações, porém ficam abaixo da média dos outros atores, principalmente na segunda história.

O cenário do Nello Marrese faz alusão ao nordeste brasileiro com as bandeiras e a sua contribuição para os painéis que se movem é a boa confecção dos mesmos. O figurino de Flávio Souza (Obrigado Jéssica! Desculpa, Flávio, errei seu nome e já consertei!) está adequado ao nordeste brasileiro e deixa os atores à vontade em cena. Assim como a luz de Renato Machado, que contribui, e muito, para o enriquecimento do cenário e das cenas marcadas pela direção.

Não foi de propósito que deixei para comentar a direção de Inez Viana. Acompanho seu trabalho não é de hoje, sou seu fã incondicional e me emocionei muito vendo “A mulher que escreveu a bíblia”. Inez dirige com competência. Sabe muito bem conduzir a peça para o objetivo do entretenimento. Seu uso de painéis andarilhos na primeira história é de uma criatividade incrível. Sensacional. A segunda história é que merece uma atenção especial, principalmente quanto se está mostrando ao público o furdunço que vem pela frente. Por termos rido muito na primeira história, a segunda começa e ficamos achando que ela não será tão boa quanto a primeira, o que não é verdade. Acredito que, com o tempo, este inicio da segunda história ganhará novas formas e aí sim tudo ficará mais divertido ainda. As duas histórias dignas de riso solto com qualidade e Inez tem todos os méritos positivos nesta montagem. Adorei.

Este espetáculo é imperdível. Aplausos de pé, com louvor a toda a equipe.

Parabéns a Inez Viana por manter vivo Ariano Suassuna em nossos palcos! Viva!

Um comentário:

Jéssica Nakazima disse...

Olá,muito boas observações, porém o nome do figurinista é Flávio Souza.
abç