quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

ENTREVISTA COM LOUSE CARDOSO



Fonte: O Globo

RIO - Ela já fez nove lipoaspirações, aplica Botox, tem tatuagens no corpo, malha o dia todo, faz natação, dança de salão, boxe e funk, não pode ouvir falar de uma novidade na ginástica que já quer experimentar. A personagem de Louise Cardoso na peça "Velha é a mãe!" tem 70 anos, mas aparenta pouco mais de 50. É casada com um médico de 85 anos, que um dia resolve largá-la. Quando sua filha, Alice (Ana Baird), vai visitá-la, numa tentativa de consolá-la, elas trocam farpas e carinhos. Com direção de João Fonseca e texto de Fábio Porchat, a peça estreia nesta sexta, às 21h, no Sesi.

Você não faz comédia há oito anos, desde "Sylvia", com direção de Aderbal Freire-Filho. Por que voltou agora?

LOUISE CARDOSO: Há muito tempo eu vinha procurando uma peça que sacudisse as pessoas na cadeira de tanto rir. Não gosto de comédia preconceituosa, que fala de judeu, negro, gay. Apareciam muitas peças assim, com as quais eu não me identificava. Até que li o texto do Fábio (Porchat) no computador. Eu dava gargalhadas.

A peça teve três ensaios abertos, na sexta, no sábado e no domingo. Como foi a reação da plateia?

LOUISE: Eu não conseguia falar. Tinha que interromper a apresentação e esperar o público parar de rir. A peça tem 67 minutos, mas levou 75 minutos, de tanta parada que teve. O Fábio está no Egito e ligou perguntando: "Alguém riu?". Falei: "Diz para ele que não estou conseguindo fazer a peça, o texto está atrapalhando." A plateia se identifica. Uma senhora falou: "Eu tenho sete ponto cinco, e tudo o que está escrito é verdade."

Por que ela é tão obcecada com exercícios e plásticas?

LOUISE: Ela quer chamar a atenção do marido. Mas acaba sendo trocada. Ela acha que é trocada por uma ninfetinha de 20 anos e aos poucos vai descobrindo a verdade.

Você já teve que dizer: "Velha é a mãe!"?

LOUISE: Não, nunca me chamaram de velha. (Risos) Nunca precisei dizer: "Velha é a mãe!".

Você já foi trocada?

LOUISE: Já, mas não vai rir. Eu tinha 40 e poucos anos, estava apaixonada, namorando há dois meses, quando ele chegou e disse: "Eu gosto é de mulata." Trocou-me por uma mulata de 20 anos. Aí não tinha como competir. Menos da metade da minha idade e mulata, que são as mulheres mais lindas do mundo! Eu, branquinha desse jeito... Liguei para um amigo chorando, e ele começou a rir. Eu me esqueci que ele era português e adora mulata.

A personagem é extremamente vaidosa. E você?

LOUISE: Sou pouquíssimo vaidosa. Nunca fiz plástica. Minha vaidade é mais intelectual e espiritual.

A personagem tem pavor de envelhecer. E você?

LOUISE: A personagem não tem nome, é como se fossem todas as mulheres que desistiram de envelhecer. Tem uma frase dela na peça: "Ficar velha é uma merda." Não sou dessa opinião, não fico revoltada. Não saio por aí espalhando que tenho 55 anos, mas, se me perguntarem, eu digo. (Risos) Sou muito antenada com o que está acontecendo. Tenho amigos de 15, 16 anos. Agora então com "Malhação" (ela é a Tia Filó da novela), eles me ligam o dia todo. Mas o bom é que a peça não julga a personagem.

Como se deu sua aproximação com João Fonseca?

LOUISE: Eu via que tudo de que ele fazia eu gostava. Ele não erra, seja comédia, drama ou musical. Falei: "Meu próximo trabalho vai ser com você." Começamos a ler várias comédias até chegar ao texto do Fábio. Eu e ele temos mania de mãe. Ele faz "Minha mãe é uma peça", eu fiz "Mãe Coragem", e agora estamos fazendo "Velha é a mãe!". Quero fazer outra peça de mãe com ele, sobre mãe judia.

Nenhum comentário: