terça-feira, 7 de maio de 2013

FELICIDADE



Certa vez, um profeta e seu discípulo andarilhos, pediram pousada em uma das residências. No jantar, serviram apenas um copo de leite. Era a única coisa que o dono da casa tinha para oferecer, embora todos que ali moravam fossem pessoas saudáveis. A terra era boa, tinha bastante área para plantio, porém a família nada cultivava. Possuíam apenas uma vaca leiteira, de onde vinha o leite que sustentava toda a família. Pela manhã, o profeta e o discípulo levantaram, agradeceram a hospedagem e continuaram a viagem. Um pouco adiante da casa, viram que a vaca pastava à beira de precipício. O profeta, então, ordenou ao discípulo “Vá até ali e empurre a vaca para o penhasco”. No dia 13 de maio próximo completam 5 anos que fui demitido da Tv Globo. Jogaram a minha vaca do penhasco aquele dia. E a minha vida prosperou, tal qual a vida daquela família da vaca, que você pode ler o fim da história no link: http://rosyaguirre.blogspot.com.br/2010/11/fabula-da-vaca-e-do-precipicio.html

Felicidade é o título do espetáculo de Cristina Fagundes, em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea. Quatro pessoas à beira da morte (a vaca no precipício) têm uma chance de mudar, em 24 horas as suas vidas. Diferente da fábula de vaca, os personagens à beira do fim têm a chance de encontrarem a Felicidade para poderem continuar vivos. O marido banana, a idosa apaixonada, a criança culpada e o músico taxista são obrigados a se livrarem de suas dores, culpas, medos, para que encontrem a felicidade e busquem uma nova vida. Aquela que realmente os faça sair da zona de conforto, que não os agrada, para seguirem em outro rumo, que os faça feliz.

No palco, a cenografia de Paulo Denizot e Janaína Wending é composta apenas por bancos de madeira, uma cortina transparente ao fundo e quatro emblemáticos relógios. Assinando também a iluminação, Paulo Denizot completa a sua cenografia com apoio da luz, e ainda faz ótimos recortes no palco, separando cenas da peça. O figurino de Lua Monteiro está de acordo com a classe econômica de cada personagem. Importantíssima é a trilha sonora de Flavia Belchior e Cristina Fagundes, bem como a narração de Clarice Niskier. Ótima também é a contribuição de Duda Maia para a direção de movimento, auxiliando a direção do espetáculo.

Cristina assina o texto e a direção. Temos um pedacinho de Nelson Rodrigues em certas cenas, o que me fez gostar mais ainda, pois sou fã de Nelson. As quebras na narrativa são bem estudadas e conseguimos acompanhar os quatro momentos dos personagens sem nos perdermos no jogo de cena proposto. Gosto muito também dos momentos em que todos se lembram da “ordem” de conseguirem a felicidade em 24 horas e suspiram assustados em conjunto. Destaque para a linda cena da idosa rezando e ao fundo os outros 3 atores imitando imagens sacras.

Ana Paula Novellino, como a menina e a mulher dominadora; Bruno Bacelar como a idosa; Jorge Neves como o músico taxista e o sogro; e Renato Albuquerque como o marido banana, estão igualmente muito bem em seus papéis, com destaque para Ana Paula e Jorge que fazem dois personagens completamente diferentes e Bruno que interpreta uma idosa convincente, sem caricatura nem pieguismo. O conjunto funciona muito bem no palco.  Atores generosos, sabendo interpretar na medida certa o que cada papel pede, sem exageros, sem criticas, apenas emprestando seus talentos aos personagens. Mérito também da diretora/autora.

Quem nunca pensou em mudar de vida, jogar sua vaca no penhasco, sair da zona de conforto? As vezes se você mesmo não se joga, a vida te dá um empurrão. Sinto falta dos amigos da Tv Globo, mas nenhuma falta do trabalho que lá realizava. Sou grato à Vênus Platinada, não me canso de dizer. Jamais traí sua confiança por ter me ensinado sobre cenografia e televisão. Sou hoje um profissional das artes graças ao empurrão que deram na minha vida, na minha vaca, para o precipício. Assista ao espetáculo e tome fôlego para, ao sair, correr com vontade em busca da sua Felicidade. Não percam, a temporada é curta.

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