Faço trânsitos astrológicos uma vez ao ano, tenho imagem de
Nossa Senhora de Fátima na mesa do trabalho, amarrei 3 fitinhas do Nosso Senhor
do Bonfim no pulso, peço licença a Yemanjá quando mergulho no mar, medito pela
manhã (quando lembro!), entre outras atividades que podem ser consideradas
demonstrações de fé. Minha religião é a fé. Onde tenho fé, onde acredito, lá
estou. Minha relação com Deus é íntima. Não posso simplesmente dizer que Ele não
existe pelo fato de não poder negar a sua existência. Vejo milagres acontecendo,
o nascimento é um deles. Vejo a composição da Natureza. Sinto o amor fraternal.
Testemunho as orações e promessas que tornam o pedido realidade. Acredito numa Energia
que nos rodeia, nos impulsiona, nos repulsa, nos aproxima. A energia do
pensamento para mim é a maior e mais potente de todas. Este é o meu Deus, que
está dentro de mim, meu mestre interior.
“Freud. A última sessão” re-estreou no Teatro Clara Nunes. E
peça, baseada no livro “The Question of God”, e transformada em teatro por Mark
St. Germain, é o encontro de duas mentes brilhantes da história da humanidade. Sigmund
Freud recebe em seu escritório Clive Staples Lewis (autor de vários livros,
entre eles "As Crônicas de Nárnia"). Pois não é que Lewis, ateu convicto, de uma hora para outra resolve acreditar em Deus? E para dar mais gosto a esta
mudança de hábito, escreve um livro com críticas a Freud por sua eterna falta
de crença em Deus. O espetáculo retrata juntamente um possível encontro
(infelizmente não chegou a acontecer) entre os dois para falarem sobre Deus e
vida. Justamente num momento em que a Segunda Guerra Mundial está começando.
A tradução é assinada por L.F. Bayão. A fluência nos
diálogos e escolha certa para as palavras traduzidas são o seu grande mérito. Gosto
da passagem em que chamamos e falamos sobre Deus, sem ao menos nos darmos conta
disso: “Vá com Deus”, “Deus lhe projeta”, “Deus me livre!”, “Seja o que Deus
quiser”, “Deus lhe pague”, “Graças a Deus!”.
O cenário realista de José Dias é, como sempre, de bom gosto,
atraente e bonito. Não poderia faltar o divã nem a mesa de estudos. O figurino
de Kiara Bianca é correto para a época e elegante. A luz é de Aurélio de Simoni,
sinônimo de competência e perfeição. Ótima também é a direção musical de
Marcelo Alonso Neves. Como sempre, Sueli Guerra faz excelente contribuição com
sua direção de movimento de espetáculos.
Leonardo Netto é Lewis e Helio Ribeiro, Freud. Ótimos
trabalhos dos atores, composição, comportamento cênico, dicção, compreensão do
texto e entrega a seus personagens. Não temos como decidir se ficamos ao lado
de Lewis ou de Freud na defesa e na negação de Deus, pois os atores nos
convencem, a cada frase, que as suas verdades são as corretas.
Lendo o programa, a frase de Ticiana Studart, diretora do
espetáculo, diz “Entrar no teatro com uma sensação e sair com outra, esse é o
plano básico que me liga a arte. Valeu à pena explorar as dúvidas de todos nós
sobre alguns dos mistérios da humanidade”. Pois você conseguiu, Ticiana, com
esta direção me fazer rir, lacrimejar, duvidar, ter mais fé ainda não só em
Deus, como na arte de representar. Fé no teatro como veículo de mudança da
humanidade. Vemos o seu trabalho competente, elegante, a sua crença ne sua arte
refletida nos detalhes do espetáculo. Aplausos de pé.
Adorei o espetáculo. Gosto de sair da peça e refletir, vir
pra casa e ficar quieto lembrando, pensando sobre a questão que acabei de
assistir. “Freud. A última sessão” é uma produção exemplar da dupla Filomena Mancuso e Melise Maia.
Tenho visto, graças a Deus (olha Ele aí!), excelentes
montagens teatrais aqui no Rio de Janeiro e sempre que posso recomendo aos
amigos que assistam. Este espaço de opiniões teatrais é de um, assim como
Ticiana, apaixonado pelo teatro. O debate no palco é ótimo. Nos faz crescer,
sair acrescentado de dúvidas e certezas. A vida é assim. Deus seja louvado (Ele
de novo)!!
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